Boris Johnson está politicamente encurralado, mas não cede. O primeiro-ministro do Reino Unido não se deixa persuadir por uma delegação de ministros do seu Governo que foi a Downing Street pedir-lhe que renuncie ao cargo, nem pela pura aritmética que mostra que mais de metade do grupo parlamentar do Partido Conservador deseja vê-lo pelas costas. Promete lutar e poderá mesmo obrigar os seus pares a lançarem uma moção de censura para o depor.
Ao fim de 48 horas marcadas por demissões de mais de 30 membros do Executivo (os ministros das Finanças e da Saúde, vários secretários de Estado e deputados que articulavam com os governantes), Johnson surpreendeu o país, quarta-feira à noite, despedindo o titular da Igualdade de Oportunidades e Habitação, Michael Gove.
O agora ex-ministro deu nas vistas pela invisibilidade ao longo da crise política em curso. Gove não se demitiu, não saiu em defesa de Johnson nem falou em público. A imprensa britânica noticiou à tarde que o ministro aconselhara o chefe a renunciar, mas sem confirmação oficial. Gove é visto como putativo sucessor caso Johnson atire a toalha ou seja deposto.
A relação entre ambos é agridoce. Gove é um dos membros mais considerados da equipa de Johnson, mas traiu-o em 2016. Depois de ambos terem sido figuras de proa da campanha pela saída da União Europeia no referendo de 23 de junho desse ano, que levou à demissão do então primeiro-ministro David Cameron, o país previa que Johnson concorresse à chefia do Governo. Preparou-se para tal e até convidou Gove para diretor de campanha. Este aceitou, mas pouco depois anunciou a sua própria candidatura, afirmando que o amigo não tinha as qualidades necessárias para ser primeiro-ministro. Johnson desistiu e a corrida acabou por ser ganha por Theresa May.
O gabinete de Johnson anunciou que o primeiro-ministro tenciona nomear substitutos para os demissionários e o demitido ainda esta noite. No entanto, o Reino Unido não está convicto de que o chefe de Governo vá permanecer em funções. A rainha Isabel II, que passou uma temporada em Sandringham, regressou esta quarta-feira a Londres. A tempo de receber, se for caso disso, um pedido de demissão e indigitar novo chefe de Governo.
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