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Jovem solitário e vítima de bullying. Quem é o atirador da escola do Texas?

Jovem solitário e vítima de bullying. Quem é o atirador da escola do Texas?
Jordan Vonderhaar/Getty Images

Salvador Ramos, de 18 anos, era gozado pelos colegas na escola devido a um problema de gaguez. Tornou-se cada vez mais violento e, depois de já ter disparado sobre a avó, atacou a Escola Primária Robb, perto da sua casa

O atirador responsável pelo ataque a uma escola no estado norte-americano do Texas na terça-feira, que causou pelos menos 21 mortes – das quais 18 crianças e três adultos – é descrito por familiares e antigos colegas como um jovem solitário, que foi vítima de bullying devido a um problema de gaguez e que tinha dificuldades na relação com a mãe.

Salvador Rolando Ramos completou 18 anos neste mês e, dias depois do aniversário, comprou armas que usou para disparar sobre a avó, que ficou gravemente ferida. Seguiu-se o tiroteio na Escola Primária Robb, perto da sua casa, em Uvalde. De acordo com o Departamento de Segurança Pública do Texas, o jovem teria um colete à prova de bala e uma espingarda e foi mortalmente atingido pela polícia.

Santos Valdez Jr., da mesma idade de Salvador, contou ao “The Washington Post” que ambos se conheciam desde a escola primária. Eram amigos e jogavam videojogos juntos, até que o comportamento de Salvador começou a mudar. Um dia, apareceu com arranhões na cara, que disse ter feito a si próprio por diversão.

Vítima de bullying

Nos anos seguintes, a questão da gaguez foi utilizada para fazer bullying, “de forma dura e por muita gente”, conta Stephen Garcia, que seria o seu melhor amigo no oitavo ano. “Ele era o rapaz mais simpático, o rapaz mais tímido. Só precisava de sair da sua concha”, acrescenta.

Stephen diz que ainda o tentou defender, mas Salvador “continuava a piorar cada vez mais”. Abandonou a escola, passou a vestir-se integralmente de preto, a usar grandes botas militares e deixou crescer o cabelo. Quando viu as notícias sobre o tiroteio, Stephen não conseguia acreditar. “Nunca esperei que ele magoasse alguém. Acho que ele precisava de ajuda mental. E de amor.”

A prima de Salvador, Mia, confirma que o jovem era gozado pelos colegas. “Ele não era uma pessoa muito social depois de sofrer bullying por causa da gaguez”, disse ao “The Washington Post”. “Penso que ele já não se sentia à vontade na escola.”

Valdez refere ainda que Salvador andava de carro à noite com um amigo e disparava uma arma de ar comprimido aleatoriamente, além de atirar ovos a outros carros. Há cerca de um ano, publicou nas redes sociais fotos de espingardas automáticas que “teria na sua lista de desejos”. Há quatro dias, publicou imagens de duas espingardas a que se referiu como “as minhas fotografias de armas”.

Problemas em casa

A relação com a mãe também não era fácil. Nadia Reyes, uma colega da escola secundária, conta que, há dois meses, Salvador publicou no Instagram um vídeo em que gritava com a mãe, que acusava de o tentar expulsar de casa. “Ele gritava e falava com a mãe de forma muito agressiva.”

Quanto à escola, Nadia diz lembrar-se de pelo menos cinco vezes em que Salvador se envolveu em brigas com colegas e que as suas amizades eram de curta duração. “Ele levava as coisas longe demais, dizia algo que não devia ser dito e depois entrava em modo de defesa”, explica.

O casal Ruben e Becky Flores, que eram vizinhos da família, convidavam-no para passar tempo em sua casa. Ruben diz que tentou ser uma espécie de figura paternal para o jovem, que tinha “uma vida bastante dura com a mãe”.

Os problemas em casa eram visíveis, com a polícia a ser chamada frequentemente, o que terá sido potenciado pelo facto de a mãe consumir drogas, segundo disseram várias pessoas próximas da família ao “The Washington Post”. Entretanto, há alguns meses, o jovem tinha-se mudado para a casa da avó.

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