Internacional

Austrália vira (ligeiramente) à esquerda. Anthony Albanese deve ser o próximo primeiro-ministro

Austrália vira (ligeiramente) à esquerda. Anthony Albanese deve ser o próximo primeiro-ministro
Lisa Maree Williams

A mãe criou-o sozinha e fez tudo para que Anthony tivesse uma vida melhor do que a sua. O rapaz foi o primeiro elemento da família a entrar na universidade, licenciou-se em Economia e vai ser o novo primeiro-ministro da Austrália. Aposta num aumento de 5% de salário mínimo e numa nova política externa

Tem 59 anos, é o líder do Partido Trabalhista da Austrália, chama-se Anthony Albanese, e tudo indica que será o próximo primeiro-ministro do país, depois de os eleitores terem sancionado nas urnas a governação do liberal Scott Morrison.

Para formar um governo maioritário na Austrália é necessário garantir a eleição de 76 deputados. O Partido Trabalhista já garantiu 73 mandatos de acordo com informação avançada pela Comissão Eleitoral Australiana e citada pela CNN.

Albanese nasceu em 1963, filho de Maryanne Ellery e Carlo Albanese. A relação entre os pais foi muito breve - o pai era um imigrante italiano na Austrália, casado, e com família constituída no país de origem - e o maior desejo de Maryanne, que criou Anthony sozinha, era de que a vida do filho fosse melhor do que a dela.

Anthony foi a primeira pessoa da família a estudar e entrar na Universidade de Sydney onde se licenciou em Economia. Em 1996, foi eleito deputado federal pelo círculo de Grayndler, a comunidade onde cresceu: "Ficarei satisfeito se puder conseguir ser recordado como alguém que defendeu os interesses do seu eleitorado, das pessoas da classe trabalhadora, do movimento trabalhista e do nosso progresso enquanto nação rumo ao próximo século”, disse (então) no seu primeiro discurso, de acordo com as informações do seu site.

Ministro do Ambiente, Desenvolvimento Regional e Infraestruturas

O século XXI chegou e Albanese foi ministro nos Executivos de Kevin Rudd e Julia Gillard.

Em 2019, o Partido Trabalhista australiano foi derrotado pelo liberal Scott Morrison, e Albanese foi escolhido para liderar a oposição.

Nas eleições de 2022, apostou numa campanha eleitoral com uma linguagem menos radical do que era uso nos Trabalhistas para não afastar o eleitorado preocupados com mudanças radicais, tirando partido da impopularidade do primeiro-ministro Scott Morrison pelas decisões tomadas durante a pandemia.

Durante a campanha eleitoral, Morrison disse que pretendia ter um estilo diferente caso fosse reeleito - "sei que há coisas que terão que mudar na maneira como faço as coisas" - mas as suas palavras não chegaram para convencer o eleitorado a dar-lhe maioria.

Mas o líder do Partido Trabalhista prometeu "construir coisas no país", caso fosse eleito, e isso aconteceu. Uma das prioridades da agenda de Albanese, é apostar numa nova política externa e reestabelecer as relações com os parceiros internacionais que Morrison deixou cair, como é o caso de vários países da área do Pacífico entre os quais as Ilhas Salomão, cujo líder assinou um pacto de segurança com Pequim, alimentando temores de que a China planeia construir uma base militar na região.

Na próxima terça-feira, Albanese vai a Tóquio para se encontrar com líderes do Quad, um grupo que reúne a Austrália, Japão, Índia e os Estados Unidos.

Os impossíveis acontecem, e o rapaz que acreditou até aos 14 anos que o pai tinha morrido num acidente de automóvel antes dele nascer (para evitar choques com a rígida moral dos anos 60) vai agora provar se é mesmo o primeiro-ministro que os australianos querem.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mgoucha@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate