O direito ao aborto não está em causa na maioria dos países onde é legal. Na verdade, pode mesmo falar-se do contrário. Em França e no Reino Unido, por exemplo, a pandemia veio trazer a possibilidade de uma mulher, através de uma consulta pela internet com o seu médico, poder requisitar que lhe sejam entregues em casa os comprimidos que interrompem a gravidez — opção que o fim da pandemia não eliminou. Mas a eventual decisão do Supremo Tribunal dos EUA que venha reverter o direito ao aborto e os casos de refugiadas ucranianas chegadas à Polónia, um dos países europeus com regras mais restritas para abortar, vieram recolocar a discussão.
Para as ucranianas que estão a chegar à Polónia — onde o aborto só é permitido nos casos de incesto, violação ou perigo para a vida da mãe —, muitas sem conhecimento da lei local, a informação de que não é possível terminar uma gravidez chega como um choque e as associações que já ajudavam as mulheres polacas estão assoberbadas com pedidos novos. “De 1 de março a 15 de maio a associação Aborto sem Fronteiras, que integramos, foi contactada por 397 refugiadas à procura de uma forma de terminar a gravidez. Uma delas não tinha notícias do marido há três semanas e já tinha cinco filhos. Simplesmente disse-nos que não conseguia aguentar mais nenhum tipo de pressão, de dor”, conta ao Expresso Mara Clarke, fundadora do Abortion Support Network, o primeiro fundo de recolha de donativos para mulheres que precisam de viajar para fazer um aborto criado na Europa, em 2009.
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