Primeira-ministra à esquerda, Governo à direita: eis a receita de Macron para vencer as legislativas
Jean Castex passou o testemunho a Élisabeth Borne no dia 16 de maio de 2022
Chesnot/Getty Images
Depois de designar a social-democrata Élisabeth Borne para primeira-ministra, o Presidente francês chamou figuras com peso na direita clássica e moderada para o primeiro Executivo do seu segundo mandato
O novo Governo francês é de continuidade. Se Jean Castex deu lugar a Élisabeth Borne na chefia da equipa ministerial, esta conserva nomes como Bruno le Maire (direita moderada), na pasta da Economia e das Finanças. O mesmo acontece com Gérald Darmanin, que continua a comandar a Administração Interna.
A grande novidade é a nomeação, para os Negócios Estrangeiros, de Catherine Colonna, histórica chiraquiana (direita neogaullista), até agora embaixadora no Reino Unido e antiga ministra dos Assuntos Europeus. Neste último pelouro permanece Clément Beaune, como ministro-delegado.
O elenco inclui outros novos nomes da direita, como Damien Abad (Solidariedade). Uma das grandes surpresas do novo Executivo é a nomeação do historiador Pap Ndiaye, diretor do Museu da Imigração, para o Ministério da Educação. É conotado com a esquerda moderada.
A constituição do novo executivo acontece a poucas semanas das legislativas de 12 e 19 de junho, nas quais Emmanuel Macron enfrenta o partido de Marine Le Pen (Reagrupamento Nacional, extrema-direita) e a recentemente constituída frente de esquerda Nova Unidade Popular, dirigida por Jean-Luc Mélenchon, que integra a França Insubmissa (esquerda radical), ecologistas, comunistas e socialistas.
A nova primeira-ministra de França, Élisabeth Borne
O novo Goveno, na realidade, é interino. A chamada “maioria presidencial” (vasta “nebulosa” política que integra centristas, sociais-democratas, direita e alguns socialistas) necessita de vencer as próximas legislativas para conservar o poder.
As sondagens são favoráveis aos aliados de Emmanuel Macron, que pode conquistar uma maioria absoluta. O seu partido A República em Marcha, rebatizado de Renascimento, quer repetir o feito das legislativas de 2017.
Nas eleições para a Assembleia Nacional (AN), que decorrem sob o sistema eleitoral tradicional francês – uninominal, maioritário, a duas voltas –, o partido de Le Pen poderá ser o grande prejudicado. Depois de ter disputado a segunda volta das presidenciais com Macron, a extremista poderá ficar apenas em terceiro lugar na AN, atrás da “frente” de Mélenchon, que é “eurocético” e pode vir a ser a principal força de oposição.