Aos 71 anos, Jean-Luc Mélenchon demonstra uma energia espantosa e não desiste de chegar ao segundo lugar — ou mesmo ao primeiro, garante — na primeira volta das presidenciais francesas, marcadas para o próximo domingo, dia 10. Só esta terça-feira, graças ao seu holograma, faz 12 comícios em todo o país. A comparência presencial acontece em Lille, no norte de França.
Milhares de pessoas vão seguir o que o candidato da esquerda radical dirá em todo o país, graças ao esforço de mil voluntários, explica o próprio Mélenchon. Não é a primeira vez que recorre ao holograma para falar aos franceses, mas nunca se tinha abalançado a fazer 12 atos de campanha em simultâneo!
Margem para crescer e voto útil
O chefe do partido França Insubmissa continua numa ascensão lenta, mas segura nos estudos de opinião. É por vezes desconcertante quando fala com jornalistas, chegando a irritar alguns, mas é também fascinante pela sua cultura, uma força da natureza pela forma como vive a vida. Um dia convidou para almoçar o correspondente do Expresso em Paris, num restaurante modesto da cidade, no decorrer de uma entrevista. E comeu, de seguida, dois grandes bifes da vazia!
Hoje, volta a espantar não apenas com o holograma, mas com a alusão a uma fábula de La Fontaine: declara que é a “tartaruga sagaz”. Partiu para esta campanha mais ou menos ao mesmo tempo que Marine le Pen, há cerca de um ano. Foram os primeiros. A seguir, percorreram o país com comícios e sessões de esclarecimento em vilas e cidades de pequenas ou de grandes dimensões.
Jean-Luc Mélenchon adapta a tartaruga da fábula à sua campanha eleitoral e exclama: “Avanço devagar, mas canso as lebres!”. E sonha muito alto: quer ultrapassar e destruir a ultranacionalista Marine, que abomina, mas também quer ter mais votos do que o centrista e liberal Emmanuel Macron, que detesta em igual medida.
“O senhor Macron deveria pensar bem e perguntar-se se está mesmo certo de figurar na segunda volta”, disse Mélenchon esta terça-feira, com o ar mais convencido do mundo. Acelerou imenso a campanha desde o fim de semana passado e dá tudo por tudo. Na maratona prevista para o princípio da noite — além de Lille há convocatórias para Albertville, Besançon, Le Havre, Metz, Montluçon, Narbonne, Nice, Pau, Poitiers, Trappes e Vannes —, será seguido por milhares de apoiantes reunidos, previsivelmente em apoteose, em pavilhões e anfiteatros, como noutras alturas em que recorreu à mesma técnica.
Ex-ministro do Partido Socialista
Mélenchon é antigo militante do Partido Socialista francês e de 2000 a 2002 foi ministro de um Governo de Lionel Jospin. Hoje a sua antiga formação está destruída. A candidata Anne Hidalgo, presidente da Câmara de Paris, não vai além dos 2% de intenções de voto.
O veterano sempre foi “socialista de esquerda” dentro do PS, contudo hoje prefere que lhe chamem dirigente da “esquerda radical”. Abandonou o partido em 2008 para fundar primeiro o Partido de Esquerda e, depois, a França Insubmissa.
Esta terça-feira, bem cedo, esteve numa rádio e, apesar de ser de madrugada, estava bem acordado. Vangloriou-se do seu desempenho, dos militantes e do seu partido. “Fazemos campanha, fazemos reuniões, tentamos convencer, é a beleza da democracia!”, exclamou na emissora Sud Radio, no seu inconfundível tom empolgado.
O esforço para estar na segunda volta passa por pedir o voto útil de toda a esquerda, já a partir do próximo domingo, uma vez que os demais candidatos dessa área política (ecologistas, socialistas, comunistas, trotskistas) não alcançam sequer os dois dígitos nas previsões. “Sou a única hipótese da esquerda!”, exclama.
Não sendo impossível, tampouco é certo que consiga esse objetivo. Terá de conseguir encontrar um estreito “buraco de rato” para passar, como refere esta terça-feira o matutino “Libération”, que não lhe é hostil. No mesmo jornal, afirma Mélenchon: “Somos os mais numerosos, os mais bem organizados, os mais coerentes”. É de certo modo verdade, mas até agora não convenceu ninguém a desistir a seu favor.