Internacional

Cinco bancos, três oligarcas. Reino Unido apresenta sanções, mas os sancionados já estavam nas listas dos EUA de 2014 e 2018

Boris Johnson fotografado na cimeira da NATO, ainda em 2019, quando a pandemia não era um assunto nem o seu cargo estava em causa precisamente por ter desrespeitado as regras da conteção do vírus Foto: Adrian Dennis – WPA Pool/Getty Images
Boris Johnson fotografado na cimeira da NATO, ainda em 2019, quando a pandemia não era um assunto nem o seu cargo estava em causa precisamente por ter desrespeitado as regras da conteção do vírus Foto: Adrian Dennis – WPA Pool/Getty Images

O primeiro-ministro inglês já apresentou o seu primeiro pacote de sanções contra a Rússia, como resporta à declaração de independência das províncias separatistas e à entrada de tropas russas nos territórios “sob o disfarce de uma missão de paz”

Fora da União Europeia, o Reino Unido não tem de esperar pela aprovação unânime de um pacote de sanções – e por isso, esta terça-feira, delineou as suas na Câmara dos Comuns. É apenas a “primeira tranche”, disse Boris Johnson. Para já, estão na lista cinco bancos russos – Rossiya, IS, General, Promsvyazbank e Black Sea – e três indivíduos com “grande volume de riqueza”, segundo Johnson – Gennady Nikolayevich Timchenko, um empresário russo, multimilionário, dono na empresa de investimento Volga Group, que se especializa em energia, transportes e infraestruturas; Boris Romanovich Rotenberg, e o seu sobrinho, Igor Rotenber, por sua vez filho do magnata Arkady Rotenberg, um amigo pessoal de Vladimir Putin desde os tempos em que o atual Presidente da Rússia era uma estrela de judo. A família tem vários investimentos e detém uma das maiores empresa de construção da Rússia, SGM (StroyGazMontazh).

No Twitter já começaram a surgir críticas a estas sanções – “muito tépidas”, disse Bill Browder, diretor executivo da Hermitage Capital, referindo que os nomes estão na lista de sanços dos Estados Unidos desde 2018.

Boris Johnson recordou o discurso de Vladimir Putin de segunda-feira à noite, criticando o Presidente da Rússia por “violar flagrantemente os Acordos de Minsk ao reconhecer a independência das províncias de Donetsk e Luhansk” e também pelo seu “tom inflamatório”, ao negar que a Ucrânia tenha tradição de ser um Estado soberano.

O primeiro-ministro disse ainda que as forças russas nas províncias de Donetsk e Luhansk entraram “mascaradas de missão de paz” e que estas tropas, em solo ucraniano, “representam uma nova invasão do país, negam a legitimidade da Ucrânia e, ao estabelecer a Ucrânia como uma ameaça direta à sua segurança, Putin abre um pretexto para esta ofensiva”, disse Johnson.

Os indivíduos não vão poder viajar até ao Reino Unido, nenhuma instituição, empresa ou cidadão britânico pode estabelecer negócios com estas três pessoas e os bens que detêm nas instituições bancárias britânicos estão, a partir de agora, congelados. “Esta é a primeira tranche do que estamos preparados para fazer. Temos mais sanções já prontas para serem implantadas, em conjunto com as dos Estados Unidos e da União Europeia.

Tanto do lado conservador como do lado dos trabalhistas, vários foram os deputados a pedir ações mais duras contra a Rússia. Iain Duncan Smith, o ex-líder conservador, foi um dos que manifestaram surpresa com o relativo pouco alcance destas sanções, uma linha crítica seguida por Tobias Ellwood, presidente do comité de Defesa da Câmara dos Comuns que pediu “poder real” contra as ações russas e sugeriu ao primeiro-ministro o estabelecimento de uma zona de bloqueio aéreo sobre a Ucrânia. Do lado dos trabalhistas, como seria de esperar, as críticas foram ainda maiores, com mais do que uma vez a sugirem menções aos financiadores do Partido Conservador de Johnson – alguns já sob sanções dos Estados Unidos, como revelou a BBC em 2020. Em resposta, o chefe do Governo disse que o Reino Unido está “muito à frente de outros países na imposição de sanções”, prometeu impor outras e avisou contra o perigo da “russofobia”. Caroline Lucas, ex-líder dos Verdes britânicos e agora deputada pelo partido, recorreu ao Twitter e deixou uma simples pergunta: “É só isto?”.

O que diz a fundamentação do Reino Unido e dos Estados Unidps sobre os três russos sancionados?

No documento oficial que justifica as sanções, o Reino Unido detalha o que considera ser o envolvimento destes três homens na política russa de “desestabilização da Ucrânia”. No que diz respeito a Gennady Timchenko, o Governo refere que o empresário russo é “um dos principais acionistas do Banco Rossiya” e que esse banco é, por sua vez, um “ator chave” no financiamento do National Media Group que, lê-se na fundamentação dos britânicos “apoia a política russa de desestabilização da Ucrânia”. 

“Após a anexação da Crimeia, o Banco Rossiya expandiu as suas agências bancárias e a prestação de serviços de seguros e investimentos em toda a Crimeia e Sebastopol; e oferece apoio às atividades militares”, lê-se no documento, que concluiu dizendo que Timchenko, está, assim, envolvido na consolidação do poder da Rússia na Crimeia, algo que “ameaça a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia”.

Quanto a Boris Rotenberg, o Reino Unido considera que, como um dos principais acionistas do SMP Bank, o empresário “está ou esteve envolvido na obtenção de benefícios ou privilégios do Governo da Rússia em virtude de controlar direta ou indiretamente” esta instituição bancária. O seu sobrinho, Igor, é alvo de sanções porque, como presidente do Conselho de Administração da NTS, uma empresa que se dedica maioritariamente a desenvolver sistemas de navegação para vários tipos de veículos. “A NTS investe em negócios no sector dos transportes, que é de importância estratégica para o governo da Rússia e, portanto, através do seu papel como Presidente do Conselho de Administração da NTS, Igor Rotenberg apoia o governo da Rússia”.

Igor Rotenberg é filho de Arkady Rotenberg, amigo antigo de Putin. Apesar de a fortuna pessoal de Igor Rotenberg estar calculada em mais de mil milhões de euros, a Forbes disse, em 2018, que o empresário é “apenas” número 93 entre as 100 mais ricas da Rússia.

Arkady Rotenberg é dono da empresa que construiu a ponte na Crimeia, anexando fisicamente à Rússia esta península ucraniana. O seu filho é agora o depositário de muitos dos bens do pai, depois deste ter entrado na lista de sanções norte-americanas 2014, a par com o seu irmão, Boris. “Especificamente, Arkady Rotenberg vendeu a Igor Rotenberg 79% da empresa de extração de crude e gás Gazprom Burenie”, sustentam os norte-americanos.

Quanto a Gennady Timchenko, o seu nome aparece numa lista de pessoas descritas pelo Governo dos Estados Unidos como “indivíduos que auxiliam ou auxiliaram materialmente, fornecem ou forneceram apoio financeiro, material ou tecnológico a um destacado funcionário do Governo da Federação Russa”. Na fundamentação para as sanções lê-se ainda que, como dono da Gunvor, uma empresa de comércio de matérias primas, principalmente de petróleo, e amigo pessoal de Putin, “as atividades de Timchenko no setor de energia estão diretamente ligadas a Putin” e o próprio Presidente russo “tem investimentos na Gunvor e pode ter acesso a fundos da Gunvor”.

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