Se o protocolo russo não descurou nenhum pormenor nos preparativos para o encontro entre Vladimir Putin e Emmanuel Macron, esta segunda-feira, no Kremlin, então a longa mesa a que se sentaram os chefes de Estado russo e francês tem implícita uma grande distância entre ambos.
O Presidente da França — país que detém a presidência rotativa do Conselho da União Europeia — tem assumido os principais esforços diplomáticos visando uma inversão na escalada da tensão que se faz sentir junto à fronteira entre a Rússia e a Ucrânia. Esta segunda-feira, Macron reuniu-se com Putin em Moscovo, na que foi a primeira deslocação à Rússia de um líder ocidental desde a forte mobilização de tropas russas na direção da Ucrânia.
Querido Emmanuel…
Num relato reproduzido no jornal russo “The Moscow Times”, sentados à mesa, o Presidente francês disse que ali estava para abordar a “situação crítica” na Europa. “Esta discussão pode começar na direção em que precisamos ir, que é uma desescalada”, disse Macron, solicitando “uma resposta que seja útil tanto para a Rússia como para toda a restante Europa”.
Putin dirigiu-se ao homólogo como “querido Emmanuel” e afirmou que os dois países “partilham preocupações sobre segurança na Europa”. Saudou também “o esforço que a atual liderança francesa está a fazer” por resolver as preocupações.
Baixas expectativas
Antes de partir para Moscovo, Macron desdobrou-se em declarações em relação ao que ia, descartando qualquer solução “a curto prazo”. “Devemos tentar eliminar todas as incertezas de ambos os lados e reduzir o campo de ambiguidades, para ver onde estão os pontos de desacordo e os possíveis pontos de convergência”, defendeu. No imediato, “temos que construir os termos de uma equação que possibilite a desescalada a nível militar”. Já em Moscovo, declarou: “Estou razoavelmente otimista, mas não acredito em milagres espontâneos”.
Também o Kremlin, antes do encontro, baixara as expectativas, dizendo que a cimeira Putin-Macron era “muito importante”, mas que não seria de esperar avanços significativos. “A situação é demasiado complexa para que haja avanços decisivos num único encontro”, frisou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Paris-Moscovo-Kiev
De Moscovo, Macron parte para o outro lado do conflito, a Ucrânia, onde tem encontro marcado esta terça-feira com o homólogo Volodymyr Zelensky. Na próxima semana, será a vez de o chanceler alemão, Olaf Scholz — que esta segunda-feira foi recebido por Joe Biden em Washington — se deslocar a Moscovo e a Kiev para se reunir com Putin e Zelensky.
Em antecipação à cimeira desta segunda-feira, o diário francês “Le Monde” qualificou a missão diplomática de Macron de “arriscada”. Em causa está a probabilidade de regressar de mãos vazias desta tentativa de mostrar liderança, a dois meses das eleições presidenciais francesas. O atual inquilino do Palácio do Eliseu ainda não anunciou a recandidatura.
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