Polónia já tem 15 mil militares na fronteira com a Bielorrússia. Pelo 2º dia consecutivo migrantes derrubam arame farpado para entrar na UE
Um militar polaco na fronteira com a Bielorrússia tenta empilhar mais arame farpado para impedir a entrada de migrantes que estão a chegar por esta nova rota
JAAP ARRIENS/Getty Images
As tentativas de entrada na Polónia por parte de pessoas que chegam à Bielorrússia de avião vindas de vários países do Médio Oriente estão a tornar-se cada vez mais comuns nas fronteiras entre os dois países. A União Europeia espera aprovar em breve novas sanções contra o regime do líder bielorrusso, Aleksander Lukashenko
Os primeiros vídeos surgiram na segunda-feira: centenas de pessoas, provavelmente até mais de mil apesar de o número exato ser impossível de precisar, forçaram a entrada na Polónia depois de terem conseguido derrubar uma parte da fronteira entre este país e a Bielorrússia, que neste momento consiste em pouco mais do que um fios de arame farpado.
Há planos para construir um muro e o projeto já recebeu o aval do maioria no Sejm, o parlamento polaco, mas por enquanto, mesmo nas zonas mais críticas, há apenas ou paus com arame farpado a uni-los ou rolos de arame farpado uns em cima dos outros.
Não são raros os relatos de migrantes que garantem ter recebido ajuda dos militares bielorrussos para cortar estas barreiras. Outros dizem ter sido levados em carrinhas militares para pontos com uma menor vigilância, por onde é mais fácil entrar e continuar o caminho para a Europa Central e Europa do Norte, o destino preferido de quase todas as pessoas que estão a chegar. E mesmo que não fosse, a Polónia aprovou a 14 de outubro uma lei que permite aos militares enviarem de regresso para a Bielorrússia todos os que entrem sem documentos no país e sem sequer dar início a um processo de asilo - as exceções a esta nova regra ficam à descrição do militar que apreender o putativo requerente de asilo mas há mais de três semanas que é legal na Polónia reenviar migrantes de regresso à Bielorrússia, uma lei nacional que vai contra o que diz a lei internacional.
"Não foi uma noite calma. Na verdade houve muitas tentativas de entrada na fronteira da Polónia", disse o ministro da Defesa, Mariusz Blaszczak, à rádio pública da Polónia.
A polícia falou de dois incidentes separados envolvendo cada um grupos de cerca de 50 pessoas. Enquanto isso, o serviço de imprensa da polícia de fronteira disse, citado pela BBC, que na noite de terça-feira para quarta-feira registaram-se 600 tentativas de entrada na Polónia. “Nas últimas 24 horas a polícia deteve outras 50 pessoas perto de Bialowieza depois de terem passado a fronteira ilegalmente”, disse, citado pela agência France Presse, o porta-voz da polícia na nesta região, Tomasz Krupa.
"Terrorismo de Estado"
Bialowieza é uma cidade no leste da Polónia e tem uma conhecida, densa e gigante floresta com o mesmo nome. É de lá que chegam muitos dos vídeos que temos visto nas redes sociais e nos sites de notícias, de migrantes a caminhar com várias camadas de roupa vestidas, sem calçado adequado, em grupo, sempre com os olhos no GPS e muitas dificuldades em encontrar abrigo ou mesmo comida e água, para não falar das temperaturas bastante severas que se fazem sentir - quase sempre perto dos zero graus.
De ambos os lados surgem acusações de maus-tratos de migrantes mas estas situações são difíceis de verificar porque nem os jornalistas das principais agências de notícias ou cadeias de televisão, polacos ou estrangeiros, têm conseguido autorização para reportar na fronteira.
"Está claro que o que estamos a enfrentar é uma demonstração de terrorismo de Estado", disse o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, durante uma conferência de imprensa conjunta com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, em Varsóvia, esta quarta-feira. Morawiecki afirmou ainda que o líder bielorrusso, Alexander Lukashenko, está a agir por “vingança”, já que a Polónia tem sido um forte apoiante do movimento oposicionista na Bielorrússia. Um dia antes, Morawiecki acusou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de orquestrar o influxo de migrantes.
Europa perto de aprovar mais sanções à Bielorrússia
A União Europeia está perto de impor mais sanções à Bielorússia, visando cerca de 30 novos indivíduos e empresas, incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros e a companhia aérea bielorrussa, a Belavia, com aprovação prevista já na próxima semana, segundo confirmaram à Reuters três diplomatas da UE. No total, caso este quinto pacote de medidas venha a ser aprovado, como parece certo, serão já 200 pessoas, empresas e entidades próximas do poder a sofrer sanções da UE.
Tanto os países europeus quanto a NATO acusam o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, de estar a facilitar os vistos de turista para pessoas que querem fugir dos seus países de forma a que, uma vez na Bielorrússia, se dirijam às fronteiras da UE, colocando assim uma grande pressão política sobre os vizinhos europeus.
Os embaixadores da UE estão prestes a aprovar a designação oficial de “guerra híbrida” para o que se passa na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia, algo que pode constituir uma base legal mais sólida sobre a qual alavancar um novo regime sancionatório. Segundo o jornal alemão “Welt am Sonntag”, os serviços secretos alemães acreditam que haja entre 800 a 1000 migrantes a chegar à Bielorrússia todos os dias, todos por avião.