Militares de forças especiais da Guiné-Conacri afirmaram este domingo, na televisão estatal, terem avançado com a dissolução do Governo e com o encerramento de todas as fronteiras aéreas e terrestres do país, de acordo com as agências de notícias. Já esta tarde, forças especiais tinham enviado à AFP (Agence France Presse) um vídeo no qual afirmavam ter capturado o Presidente Alpha Condé, apesar de o Ministério da Defesa ter garantido que conseguiu evitar a tentativa de golpe.
Mamadi Doumbouya, identificado como tenente-coronel à frente de uma força de elite nacional, leu um comunicado na televisão, rodeado por outros militares: “O dever de um soldado é salvar o país”, afirmou. “Não vamos continuar a confiar a política a um homem, vamos confiá-la ao povo”, disse, acrescentando que avançarão para a dissolução da Constituição e para o encerramento de fronteiras durante uma semana.
Na declaração não foi feita nenhuma referência à captura do Presidente e ainda não foi confirmada a veracidade das imagens de vídeo onde Alpha Condé aparece sentado num sofá, de calças de ganga e camisa, recusando-se a responder se foi mal tratado. “Decidimos, depois de retirar o Presidente, que atualmente está connosco (...), dissolver a Constituição em vigor e dissolver as instituições; decidimos também dissolver o Governo e fechar as fronteiras terrestres e aéreas”, afirmou um dos membros do grupo, que se apresentou de uniforme e armado, no vídeo enviado à AFP.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, já condenou “qualquer tomada de poder” na Guiné-Conacri “pela força das armas” e apelou ainda, numa publicação no Twitter, “à libertação imediata do Presidente Alpha Condé”, acrescentado estar a seguir a situação “de muito perto”.
Terceiro mandato gerou protestos
Durante esta manhã tinham sido ouvidos disparos de armas automáticas no centro de Conacri, capital da Guiné-Conacri, e testemunhas relataram a presença de muitos militares nas ruas. O Ministério da Defesa afirmou este domingo, em comunicado, que “os insurgentes semearam o medo” em Conacri antes de tomarem o palácio presidencial, mas que “a guarda presidencial, apoiada pelas forças de defesa e segurança leais e republicanas, conteve a ameaça e repeliu o grupo de atacantes”.
O presidente Alpha Condé está no poder há mais de dez anos e a sua popularidade caiu significativamente depois de ter mudado a Constituição de modo a poder candidatar-se a um terceiro mandato, defendendo que esse limite não lhe era aplicado. A atitude gerou protestos violentos da oposição, segundo as agências de notícias, o que gerou receios de maior instabilidade política na região. Nas últimas semanas, o governo da Guiné-Conacri avançou com grandes aumentos de impostos, com o preço do combustível a subir 20%.
Mamadi Doumbouya, na declaração emitida na televisão estatal, criticou a falta de progresso económico desde que o país se tornou independente de França em 1958. “Se olharem para o estado nas nossas estradas, se olharem para o estado dos nossos hospitais, percebem que 72 anos depois é tempo de acordar.”
Alpha Condé, de 83 anos, foi eleito em 2010, naquelas que são consideradas as primeiras eleições democráticas na Guiné-Conacri desde a independência de França. Em 2011, sobreviveu a uma tentativa de assassinato depois de a sua casa ter sido invadida por homens armados, temendo-se na altura um golpe de Estado.
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