"Cada dia que passa é pior, porque eles sabem que o prazo está a acabar e as pessoas estão a acumular-se no aeroporto de Cabul. Há avalanches humanas e os talibãs estão também a tornar-se cada vez mais agressivos. Há tiroteios e uma situação de violência muito evidente", disse a ministra da Defesa, Margarita Robles, à rádio Cadena Ser.
Robles admitiu que algumas pessoas serão deixadas para trás, até porque há intérpretes que vivem em zonas como Herat, a três dias de carro de Cabul, e mesmo quem consegue aproximar-se do aeroporto da capital enfrenta uma situação "extremamente complicada" em termos de segurança.
Segundo a agência espanhola EFE, Robles disse que a Espanha continuará a retirar refugiados de Cabul durante o máximo de tempo possível, embora isso dependa das decisões dos líderes do G7.
O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão disse esta terça-feira que o tempo planeado pelos Estados Unidos para sair do Afeganistão, até 31 de agosto, "não será suficiente" para retirar todas as pessoas que desejam sair do país.
"Mesmo que [a operação de retirada] dure até 31 de agosto ou mais alguns dias, não será suficiente", explicou Heiko Maas numa entrevista ao jornal Bild, pedindo novamente mais diálogo com os talibãs para garantir as transferências.
Os líderes do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) vão reunir-se de emergência para discutir a situação no Afeganistão, onde milhares de afegãos continuam a querer fugir dos talibãs.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, participam na cimeira extraordinária do G7.
O Reino Unido indicou que pretende solicitar aos Estados Unidos que prolonguem a operação em Cabul, mas o secretário da Defesa britânico, Ben Wallace, admitiu ser "improvável" que essa operação possa continuar depois de 31 de agosto.
"Acho improvável, não apenas devido ao que os talibãs disseram, mas [também] tendo em conta as declarações públicas do Presidente [Joe] Biden", disse Ben Wallace, na cadeia televisiva Sky News, a poucas horas do início da reunião virtual do G7, agendada para as 14:30.
Wallace já tinha admitido na segunda-feira que a operação em Cabul deve ser agora medida "por horas, e não por semanas", dado que depende da estrutura de segurança que as forças norte-americanos têm no terreno. Mas a esperança continua em cima da mesa dos britânicos: "Definitivamente, vale a pena tentar e vamos tentar", disse Ben Wallace.
As declarações da ministra espanhola coincidem com receios manifestados em Londres e Paris sobre a impossibilidade de se manter a operação de resgate de milhares de afegãos que querem fugir dos talibãs, no poder no Afeganistão desde 15 de agosto.
O chefe de gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros francês disse que a França terá de cessar as suas operações de resgate em Cabul na quinta-feira, se os Estados Unidos saírem do Afeganistão em 31 de agosto. "Para nós, em termos de planeamento antecipado, isso significa que a nossa operação termina na noite de quinta-feira. Portanto, ainda temos três dias", explicou Nicolas Roche ao primeiro-ministro, Jean Castex, na presença de jornalistas, segundo a agência France-Presse (AFP).
O governo de Paris identificou 62 cidadãos franceses ainda por retirar do Afeganistão e um grande número de afegãos solicitou ajuda para sair do país, que as autoridades estão a examinar, acrescentou a AFP.
Em declarações citadas pelo diário britânico "Guardian", o embaixador britânico em Cabul, Laurie Bristow, alertou que os talibãs têm estado a dar sinais claros de que "querem a operação terminada até ao final do mês".
Se os EUA e o seus aliados tentarem prolongar a operação, há pelo menos o risco de ela prosseguir "num ambiente muito difícil e menos complacente", acrescentou o diplomata.
Os talibãs disseram na segunda-feira que 31 de agosto é a "linha vermelha" para a retirada das tropas dos Estados Unidos, como estava inicialmente previsto, e que um adiamento terá consequências.