Enquanto a Câmara dos Deputados discutia esta terça-feira a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre o voto impresso nas eleições, uma das principais bandeiras de Jair Bolsonaro, o presidente do Brasil assistia ao desfile militar, instigado pelo próprio, nas imediações do Congresso. Durante dez minutos, tanques, blindados, jipes e camiões desfilaram junto ao Palácio do Planalto, em Brasília.
Ao todo, 40 veículos da Marinha brasileira participaram na parada militar que passou ao lado da praça dos Três Poderes, local onde se concentram a sede do executivo, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
O desfile militar é “interpretado como uma tentativa de demonstração de força” de Bolsonaro, escreve a “Folha”, e foi encarado “como mais uma tentativa de pressionar outros poderes e de buscar uma politização das Forças Armadas”.
No Twitter, o governador de São Paulo, João Dória, partilhou um cartoon do New York Times sobre o desfile militar e escreveu: “Bolsonaro já era uma vergonha nacional. Agora se torna vergonha internacional”.
De acordo com a Marinha, o facto de a demonstração militar ocorrer no memo dia da votação da PEC ao voto impresso não passa de uma "coincidência", uma vez que o evento terá sido agendado "muito antes" de ser conhecido o dia em que o Congresso iria discutir a emenda constitucional.
A marcha de blindados junto ao Congresso ocorreu num momento de crise institucional entre Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal. Mais do que isso, acontece numa altura em que as sondagens colocam Lula como favorito à vitória nas presidenciais do próximo ano.
O chefe de Estado brasileiro disse este sábado que “um ou dois juízes do Supremo Tribunal Federal não vão decidir o destino de uma nação”, reforçando a sua companha política contra o voto eletrónico. O voto eletrónico é válido no Brasil desde 1996 mas, na opinião de Bolsonaro, é uma arma para a “fraude” eleitoral.
Para o mesmo Congresso Nacional para onde esta terça-feira Bolsonaro encaminhou 40 viaturas militares, Bolsonaro mandou também a responsabilidade de decidir a favor do voto impresso. “Quem foi votado, quem tem legitimidade além do Presidente, é o Congresso Nacional”, afirmou.
“Faremos tudo pela nossa liberdade, por eleições limpas, democráticas. Eleição fora disso que eu falei não é eleição. Há mais de um ano tenho advertido que temos de ter eleições limpas no Brasil. Não continuem nos provocando, não queiram nos ameaçar. Quem está com Deus e com o povo tem o poder”, afirmou Bolsonaro, citado pela CNN Brasil, num discurso perante centenas de apoiantes em Florianópolis.
O desfile militar começou às 8h30, sob o olhar atento do Presidente do Brasil, acompanhado de alguns dos seus ministros, incluindo os da Defesa e da Justiça.
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