Bielorrússia. “Por favor, salvem-no. Eles vão matá-lo ali”: pais de Roman Protasevich pedem ajuda à comunidade internacional
JAAP ARRIENS
“Estou a pedir, a implorar, a apelar à comunidade internacional para o salvarem”, disse em entrevista à agência France-Presse Natalia Protasevich, a mãe de Roman, que revelou não dormir há duas noites. A conversa ocorreu em Wroclaw, Polónia
Os pais de Roman Protasevich, o jornalista bielorrusso detido pelo regime de Lukashenko após desvio de um voo da Ryanair, deram uma entrevista e pediram à comunidade internacional para o salvar. Temem que seja assassinado.
“É só um jornalista, é só uma criança mas por favor, por favor, estou a implorar por ajuda. Por favor, salvem-no. Eles vão matá-lo ali”. Roman Protasevich está supostamente detido numa das instalações prisionais localizadas no centro de Minsk, de onde terá gravado o vídeo onde dizia que estava a ser tratado de uma forma adequada e que estava a colaborar com as autoridades.
O pai de Roman, Dmitry, revelou que uma advogada tentou contactar com o jornalista detido, mas que não teve sucesso. “Não sabemos ainda se está lá, a condição dele, o que está a sentir.”
Dmitry considera que o vídeo mencionado em cima foi “claramente” orquestrado, vislumbrando ainda sinais de nervosismo e de agressões.
De acordo com a AFP, os pais de Roman mudaram-se para a Polónia há oito meses. O filho mudou-se para a Polónia em 2019, mas agora estava a viver na Lituânia, para onde voava quando o avião onde seguia foi interceptado, após férias na Grécia com a namorada, também detida.
A HISTÓRIA
Um voo da companhia de baixo custo irlandesa Ryanair entre Atenas, na Grécia, e Vilnius, na Lituânia, foi forçado no domingo a fazer um desvio para Minsk, na Bielorrússia, que culminou com a detenção do jornalista e ativista bielorrusso Roman Protasevich e da companheira.
Na segunda-feira, a União Europeia, reunida em cimeira extraordinária, aprovou uma série de medidas contra o regime bielorrusso e exigiu a libertação de Roman Protasevich. Os líderes pediram às companhias europeias para evitarem o espaço aéreo bielorrusso, banindo também as transportadoras da Bielorrússia na Europa.
"Atuei conforme a lei para defender as pessoas, de acordo com as normas internacionais", disse Lukashenko numa intervenção no Parlamento de Minsk e perante altos responsáveis do regime, onde revelou também que o alerta de bomba a bordo terá partido da Suíça, quando antes oficiais do país haviam apontado ao Hamas, conta o "The Independent".
De acordo com a agência oficial Belta, da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, disse ainda que os "ataques ultrapassam as linhas vermelhas", numa referência às reações internacionais ao desvio do avião para deter um jornalista opositor.
"Os nossos adversários do estrangeiro e do interior do país mudaram os métodos para atacarem o nosso Estado. Ultrapassaram uma infinidade de linhas vermelhas. Passaram para lá dos limites do entendimento da moral", disse Lukashenko, que acrescentou tratar-se de uma "guerra híbrida" contra aquele país. O presidente da Bielorrússia considerou "mentiras" as acusações internacionais.
A Bielorrússia atravessa uma crise política desde as eleições de 9 de agosto de 2020, que segundo os resultados oficiais reconduziram o Presidente, Alexander Lukashenko - no poder há mais de duas décadas - para um sexto mandato, com 80% dos votos. A oposição denunciou a eleição como fraudulenta e reivindicou a vitória nas presidenciais.
Desde então, o país testemunhou uma vaga de protestos populares para exigir o afastamento de Lukashenko, manifestações conduzidas pela oposição que têm sido reprimidas com violência pelas forças de segurança da Bielorrússia.