Internacional

Roman foi preso no fim das férias. Só a União Europeia pode defender o jornalista bielorrusso

Foto do jornalista Roman Protasevich exibida num protesto contra a ditadura bielorrussa em Varsóvia, Polónia
Foto do jornalista Roman Protasevich exibida num protesto contra a ditadura bielorrussa em Varsóvia, Polónia
Dawid Zuchowicz/Agencja Gazeta/REUTERS

Roman Protasevich, 26 anos, jornalista bielorrusso exilado na Lituânia, foi à Grécia para fazer a reportagem do Fórum Económico de Delfos, onde interveio a líder da oposição bielrorussa, Svetlana Tikhanovskaya. Terminada a conferência, esta regressou a Vilnius. Roman ficou mais uns dias na Grécia e foi preso no regresso a casa, depois de o voo da companhia irlandesa que ligava as capitais de dois países da União Europeia ser intercetado, desviado e obrigado a aterrar na capital de uma ditadura que pode ter desrespeitado as normas do Direito Internacional

Os trabalhos da VI edição do Fórum Económico de Delfos decorreram em Atenas (regime presencial e online) e só por isso não podemos dizer que o velho oráculo de Delfos falhou o seu destino, ao não avisar Roman Protasevich do risco que correria se regressasse à Lituânia, onde vive exilado, a bordo do voo FR4978 da Ryan Air, companhia low cost com sede na Irlanda, estado-membro da União Europeia (UE).

Roman embarcou em Atenas, capital da Grécia, membro da UE. Tinha como destino Vilnius, capital da Lituânia, outro dos 27. As duas capitais europeias estão separadas por 2800 quilómetros e, no início, tudo indicava que aquele voo iria ser igual a tantos outros. Igual, por exemplo, àquele em que viajaram Svetlana Tikhanovskaya e a sua assistente, Franak Viačorka, uma semana antes.

Não foi. Aconteceu um desvio inimaginável, seguido de aterragem forçada como nunca tínhamos visto num voo de ligação entre dois países da UE.

O voo FR4978 da Ryanair foi forçado a aterrar em Minsk, capital da Bielorrússia, país que não pertence à UE. O seu Presidente é Alexander Lukashenko, no poder desde 1994, ano em que o cargo foi criado com a aprovação da Constituição Bielorrussa pelo soviete supremo, replicando um modelo de Estado semelhante ao da antiga União Soviética, que acabava de se desintegrar e à qual a Bielorrússia pertencera.

A observação do mapa acima do FlightRadar indica que o avião mudou de rota para aterrar no aeroporto de Minsk, percorrendo uma distância maior do que se tivesse seguido diretamente para Vilnius, capital da Lituânia.

Segundo a agência russa de notícias Tass (que cita a agência BelTA), a ordem de mudança de rota foi dada pelo Presidente bielorrusso, na sequência de um alegado alerta de bomba. Lukashenko também ordenou que o avião da Ryanair fosse escoltado por um caça MiG-29 até ao aeroporto de Minsk.

Grécia e Lituânia exigem resposta coordenada da UE

Grécia e Lituânia, o país de onde partiu o voo desviado e aquele onde deveria ter aterrado, e onde residia até ser preso o jornalista Protasevich, exigem resposta coordenada da União Europeia e "forte determinação" dos dos 27 Estados-membros, como defendeu na rede social Twitter o Presidente da Lituânia, Gitanas Nausèda.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Grécia emitiu um comunicado a afirmar que para Atenas é questão de princípio defender valores como a democracia, o primado da lei e os direitos humanos. Acrescenta: Acreditamos que este género de práticas são reminiscências de outra era, incompatíveis com um estado civilizado.

A Grécia mantém-se em estreita coordenação com os outros Estados-membros da UE e espera uma tomada de posição do Conselho Europeu, que se realiza esta terça-feira em Bruxelas.

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