O desvio do avião da Ryanair para Minsk, capital da Bielorrússia, tomou de assalto a agenda do jantar de líderes europeus que já decorre esta segunda-feira em Bruxelas. À entrada, foram várias as vozes de condenação ao comportamento das autoridades da Bielorrússia. Agora, os 27 chefes de Estado e de Governo vão tentar articular uma resposta conjunta - e firme - contra o que o presidente do Conselho Europeu classificou de "ameaça à segurança" e "escândalo internacional".
Referindo-se ao facto de estar em causa a vida de cidadãos civis europeus, Charles Michel afirmou que, por isso mesmo, o desvio do avião “não é aceitável” e que os líderes têm como prioridade a discussão sobre novas sanções à Bielorrússia. “Estamos a preparar diferentes possibilidades e medidas e espero que esta noite já tenhamos decisões”, afirmou Charles Michel.
“O tempo da retórica acabou. Temos de encetar ações claras para mudar o padrão de comportamento deste regime muito perigoso”, disse, também à chegada do Conselho Europeu, o presidente da Lituânia. Gitanas Nausėda classificou a ação da Bielorrússia - de desviar um avião comercial que seguia da Grécia para o seu país - como “um ato de terrorismo de Estado contra a comunidade europeia”.
“O avião da Ryanair foi forçado a aterrar em Minsk e isso foi feito com a ajuda de aviões e helicópteros militares (bielorrussos)", frisou, lembrando que a razão "foi a presença a bordo do ativista e voz da oposição, Roman Protasevich". Gitanas pressiona a libertação do jornalista e da namorada, Sofia Sapéga, estudante de direito na Lituânia desde 2004.
"Acreditamos que é importante condenar o que aconteceu. Exigimos ao regime bielorusso que liberte todos os passageiros e quando digo a todos é a todos", insiste também o chefe do Governo espanhol, Pedro Sanchéz. E a chanceler alemã acompanha a exigência. "Roman Protasevich deve ser libertado imediatamente. Todas as outras explicações para esta aterragem do avião da Ryanair são completamente duvidosas. O mesmo se aplica à sua companheira Sophia Sapega", afirmou Angela Merkel à entrada para a cimeira presencial na capital belga.
"É uma coisa de loucos, como um muito mau filme", ironiza em tom crítico o primeiro-ministro do Luxemburgo. "Um presidente que faz desviar um avião porque há alguém que crítica o seu regime", continua Xavier Bettel, referindo-se a Alexandr Lukashenko como um "ditador".
As próximas horas deverão ser da passagem das palavras de condenação às ações e decisões e o primeiro-ministro irlandês promete "defender uma resposta firme e forte".
Sanções em cima da mesa
São várias as opções para pressionar a Bielorrúsia. Desde fechar o espaço aéreo da União Europeia à Belavia, companhia aérea nacional da Bielorrússia, ao reconhecimento de que não é seguro sobrevoar o país liderado por Lukashenko.
Na sequência da forte repressão às manifestações contra o resultado das eleições presidenciais, o presidente bielorusso foi incluído na lista de sancionados pela União Europeia. Mas isso não impediu o episódio deste domingo. Agora, muitos esperam uma mão ainda mais firme e Merkel fala num alargamento de sanções.
"Sanções contra indivíduos que estão envolvidos neste sequestro, mas também contra empresas e entidades económicas que estejam a financiar estes regimes", explica a presidente da Comissão Europeia. Segundo Ursula von der Leyen, vão também ser consideradas "sanções contra o setor da aviação na Bielorrússia".
A alemã que dirige o executivo comunitário promete "uma resposta muito forte" ao "sequestro" do avião da Ryanair - ainda que a decisão seja dos Governos dos 27 - argumentando que "Lukachenko e o seu regime têm de compreender que isto terá consequências sérias". Von der Leyen lembra ainda que "há um pacote económico de 3 mil milhões (da UE) que está congelado até que a Bielorrússia se torne democrática" e até que respeite a liberdade de imprensa e de opinião.
Nesta cimeira será ainda abordada a relação da UE com a Rússia. “Queremos implementar os cinco princípios; seremos firmes na defesa dos interesses europeus”, afirmou o presidente do Conselho Europeu, que deixou ainda a nota de que haverá espaço para debater a situação em Israel e na Palestina.
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