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Avião da Ryanair desviado para prender jornalista dissidente bielorrusso

Avião da Ryanair desviado para prender jornalista dissidente bielorrusso
Andrew Boyers/Reuters

O voo da Grécia para a Lituânia no qual seguia Roman Protasevich aterrou forçadamente em Minsk este domingo. O jornalista foi detido e enfrenta pena de morte por terrorismo. Oposição bielorrussa acusa o regime de Alexander Lukashenko de desviar o avião para prender o dissidente. Governo lituano já qualificou este ato como "abominável".

A oposição bielorrussa acusou este domingo o regime de Alexander Lukashenko de desviar para Minsk um avião que viajava de Atenas para Vílnius (Lituânia), afim de deter um jornalista que tinha fugido para o estrangeiro. O jornalista em causa é Roman Protasevich, responsável pelo canal Nexta, ligado à rede social Telegram. O presidente lituano, Gitanas Nauseda, confirmou no Twitter a prisão de Protasevich, qualificando o ato de "abominável".

Segundo fontes oficiais bielorrussas, o voo FR4978 de Atenas para Vilnius teve de aterrar forçadamente em Minsk devido a uma ameaça de bomba, informação replicada pela televisão russa. Porem, o Nexta contrapôs: "O avião foi revistado, nenhuma bomba foi encontrada. Entre os passageiros estava o jornalista do Nexta, Roman Protasevich. Foi detido."A líder da oposição Svetlana Tikhanovskaya, que perdeu as últimas eleições para Alexander Lukashenko, no poder de 1994, num escrutínio que denunciado como ilegal, exigiu a rápida libertação do jornalista. De acordo com Tikhanovskaya, este enfrenta uma pena de morte por ter sido considerado "terrorista" pelo regime bielorrusso, depois de ter reportado as eleições presidenciais de 2020.

Roman Protasevich, de 26 anos, cujo canal se tornou a principal fonte de informação durante as primeiras semanas de protestos antigovernamentais após as eleições presidenciais de agosto de 2020, viajava de Atenas para a capital lituana e acabou detido pelas autoridades bielorrussas, quando os cerca de 120 passageiros do avião da Ryanair foram forçados a submeter-se a novo controlo no aeroporto de Minsk devido a um suposto aviso de bomba.

Anteriormente, o jornalista bielorrusso já tinha notado que estaria a ser seguido em Atenas, alegadamente por agentes ligados aos serviços secretos da Bielorrússia. As versões sobre a aterragem de emergência são também contraditórias, com Minsk a relatar que foram os próprios pilotos a solicitar autorização, enquanto no aeroporto de Vílnius foi reportado um suposto conflito entre os pilotos e alguns dos passageiros.

Através do Telegram, o canal Nexta defendeu que foram os agentes dos serviços secretos bielorrussos que alertaram para a existência de um alegado engenho explosivo no interior do avião. Fontes próximas da presidência relataram que foi Lukashenko quem ordenou pessoalmente a interceção do avião, que foi escoltado por um caça MiG-19, a fim de supostamente defender a Europa de uma ameaça à sua segurança.

"O regime pôs os passageiros a bordo e toda a aviação civil sob ameaça para reprimir uma pessoa (...). Exigimos a libertação imediata de Roman, uma investigação e sanções contra a Bielorrússia", disse Tikhanovskaya.

Em novembro de 2020, o Comité de Investigação acusou Protasevich e Stepan Putilo, fundadores do canal Nexta, de organizarem motins e incitarem ao ódio contra funcionários e a polícia. Na sequência dessa acusação, os dois elementos foram incluídos na lista de terroristas e o poder judicial bielorrusso considerou a Nexta uma organização extremista.

Desde o início dos protestos na antiga república soviética, centenas de jornalistas foram detidos e quase 20 estão ainda presos. Já esta semana foram detidos vários funcionários e repórteres do popular website da oposição tut.by, cujo acesso foi bloqueado no âmbito de um caso de evasão fiscal.

Ainda segundo a imprensa local, o ativista da oposição Vitold Ashurok, que cumpria uma pena de cinco anos por participar em protestos contra Lukashenko, morreu esta semana na prisão em circunstâncias consideradas estranhas.

Entretanto, Alexander Lukashenko promulgou uma lei de segurança nacional que alarga os poderes da polícia e de outras forças estatais e que podem utilizar armas militares para reprimir a desordem.

Países europeus pedem explicações à Bielorrússia

Vários países europeus exigiram hoje uma "explicação imediata" da Bielorrússia, depois de um caça bielorrusso ter intercetado um avião no qual seguia o jornalista e ativista da oposição Roman Protasevich, que acabou detido no aeroporto de Minsk.

"Precisamos de uma explicação imediata do governo bielorrusso sobre o desvio dentro da União Europeia de um voo da Ryanair para Minsk e a alegada prisão de um jornalista", afirmou o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros alemão, Miguel Berger, na rede social Twitter.

No mesmo sentido, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, denunciou a gravidade da situação e apelou a uma "resposta firme" dos 27 estados-membros da União Europeia (UE).

"O sequestro de um voo Ryanair pelas autoridades bielorrussas é inaceitável. Uma resposta firme e unida dos europeus é essencial", declarou no Twitter líder da diplomacia francesa.

Roman Protasevich, cujo canal Nexta na rede social Telegram se tornou a principal fonte de informação nas primeiras semanas de protestos antigovernamentais após as eleições presidenciais de agosto de 2020, viajava de Atenas para Vilnius e acabou detido pelas autoridades bielorrussas, quando os cerca de 120 passageiros do avião da Ryanair foram forçados a submeter-se a novo controlo em Minsk devido a um suposto aviso de bomba.

O ministro lituano dos Negócios Estrangeiros, Gabrielius Landsbergis, recorreu também ao Twitter para apelidar o desvio do avião uma "notícia perturbadora". Já o Presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, exigiu a libertação imediata do jornalista e ativista da oposição bielorrussa.

Por sua vez, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, considerou a detenção do jornalista bielorrusso um "ato de terrorismo de Estado" e assumiu no Twitter ter pedido ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, para a UE discutir "sanções imediatas" contra a Bielorrússia já na segunda-feira.

A reação da UE surgiu, entretanto, por via do chefe da diplomacia, Josep Borrell, que considerou o governo bielorrusso "responsável pela segurança de todos os passageiros", exigindo que estes possam ser "autorizados a continuar a sua viagem imediatamente". No entanto, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, reiteraram o mesmo apelo.

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