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“Pagámos a conta e fomos até ao abrigo antibomba.” Sete dias de angústia pelos olhos de um histórico pacifista israelita

Um dos protestos do grupo Gush Shalom, Bloco de Paz, criado em 1993 pelo histórico pacifista e conhecido autor israelita Uri Avnery. Avnery morreu em 2018 mas a sua luta continua
Um dos protestos do grupo Gush Shalom, Bloco de Paz, criado em 1993 pelo histórico pacifista e conhecido autor israelita Uri Avnery. Avnery morreu em 2018 mas a sua luta continua
GALI TIBBON/Getty Images

Adam Keller é israelita. Tem 67 anos, é autor de livros sobre as possibilidades de paz entre israelitas e palestinianos e defende há mais de 50 anos os direitos da população árabe. Esteve na primeira intifada a contragosto, por isso pintou slogans pela paz nos tanques do exército israelita. Em conversas com o Expresso desde o ressurgimento das hostilidades, foi-nos contanto histórias do seu dia a dia em Israel, momentos rotineiros que não deviam sê-lo em lado nenhum e frustrações de uma luta inglória. As conversas foram adaptadas para este testemunho na primeira pessoa

Testemunho recolhido por Ana França

Adam Keller é pacifista desde que, com 15 anos, se encontrou com um soldado israelita, clandestinamente, e este lhe contou as atrocidades que o exército cometera durante a Guerra dos Seis Dias. Hoje é um de muitos israelitas, incluindo outros ex-membros das Forças Armadas, que se foram tornando objetores de consciência à ocupação dos territórios palestinianos.

Em 1988, durante a primeira intifada, Keller esteve em combate (não há muitas opções para lhe escapar). Viu-se acusado de “insubordinação” e “difusão de propaganda prejudicial à disciplina militar” porque uma noite saiu da camarata e escreveu, em mais de 100 tanques e outros veículos militares, a frase “soldados das IDF, recusem-se a ser opressores, recusem-se a servir nos territórios ocupados”.

Em 1993, fundou com Uri Avnery, célebre escritor, deputado e ativista que morreu em 2018, a Gush Shalom, uma das mais conhecidas organizações israelitas envolvidas na luta pela criação de um Estado palestiniano. Keller já se encontrara com o Expresso em Telavive, nas legislativas de abril de 2019. Ao longo da presente vaga de violência foi-nos relatando, com textos, mensagens avulsas, conversas ao telefone e pequenos áudios, a primeira semana de conflito.

Ontem [terça-feira, 11 de maio] acordámos com a notícia de mais 20 mortes em Gaza, nove menores; e duas mulheres israelitas mortas na cidade de Ashkelon [sul, perto de Gaza]. Uma delas era uma trabalhadora migrante, oriunda da Índia. Desde essa manhã até perto da hora do lanche, as mortes duplicaram dos dois lados.

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