Internacional

Conflito israelo-palestiniano pode transformar-se numa crise "descontrolada" humanitária e de segurança, alerta Guterres

Conflito israelo-palestiniano pode transformar-se numa crise "descontrolada" humanitária e de segurança, alerta Guterres
Denis Balibouse

Secretário-geral da Organização das Nações Unidas descreve cenário "chocante" e alerta para riscos de descontrole com consequências extremas em toda a região do Médio Oriente. António Guterres pede fim da violência

O conflito israelo-palestiniano pode transformar-se numa crise "descontrolada" humanitária e de segurança, com consequências extremas em toda a região do Médio Oriente, alertou este domingo o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, descrevendo um cenário "chocante" numa reunião virtual de urgência do Conselho de Segurança da ONU, dedicada ao Médio Oriente.

Uma "carnificina" e hostilidades "terríveis" foram alguns dos termos utilizados por António Guterres para descrever a escalada de violência da última semana, considerando que os últimos acontecimentos em Gaza "empurram para mais longe o horizonte de qualquer esperança de coexistência e paz". "Reunimo-nos durante a escalada mais séria [no conflito] entre Gaza e Israel em anos", começou por dizer o secretário-geral da ONU, que expressou profunda preocupação com os "violentos confrontos entre as forças de segurança israelitas e civis palestinianos em toda a Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental".

O secretário-geral da ONU alertou que existe potencial de se desencadear "uma crise de segurança e humanitária descontrolada" com consequências de maior extremismo não só para Israel e territórios palestinianos ocupados, como para toda a região. O antigo Alto Comissário da ONU para os Refugiados teme que os combates "arrastem israelitas e palestinianos para uma espiral de violência com consequências devastadoras, potencialmente criando um novo foco de instabilidade perigosa".

"O único caminho a seguir é retornar às negociações com o objetivo de dois Estados, vivendo lado a lado em paz, segurança e reconhecimento mútuo, tendo Jerusalém como a capital de ambos os Estados, com base nas resoluções pertinentes da ONU, direito internacional e acordos prévios", declarou António Guterres. O responsável mostrou-se "chocado" com o número "cada vez maior" de vítimas civis palestinianas, incluindo mulheres e crianças, em Gaza, após ataques aéreos israelitas e deplorou as fatalidades em Israel por 'rockets' lançados de Gaza.

Guterres declarou que "as hostilidades obrigaram milhares de palestinianos a deixar as suas casas em Gaza e procurar abrigo em escolas, mesquitas e outros lugares com acesso limitado a água, comida, higiene ou serviços de saúde", ao mesmo tempo que os hospitais já estão "sobrecarregados" devido à pandemia de covid-19. "Enquanto isso, civis israelitas vivem com medo de foguetes lançados de Gaza", acrescentou.

Guterres disse que a ONU está envolvida ativamente com todas as partes do conflito para promover um cessar-fogo imediato e insistiu que o combate, "este ciclo sem sentido de derramamento de sangue, terror e destruição" devem "parar imediatamente". "'Rockets' e morteiros de um lado e bombardeamentos aéreos e de artilharia do outro devem parar", acrescentou também António Guterres. "A violência por grupos de estilo vigilante e turbas em Israel acrescentou uma dimensão terrível a uma crise já em deterioração", considerou Guterres.

O secretário-geral da ONU apelou para que os líderes das partes em conflito usem a sua "responsabilidade de conter a retórica inflamatória e acalmar as tensões crescentes", declarando também que todas as partes devem respeitar o direito internacional humanitário. Assim, Guterres pediu também proteção e liberdade de movimentos aos jornalistas e manutenção do respeito pelo 'status quo' dos locais sagrados. "Somente uma solução política sustentável negociada vai encerrar, de uma vez por todas, estes ciclos devastadores de violência e levará a um futuro pacífico para palestinianos e israelitas", concluiu o secretário-geral da ONU.

Os atuais combates provocaram já perto de duas centenas de mortos, maioritariamente do lado palestiniano, e são considerados os mais graves desde 2014. Os combates começaram em 10 de maio, após semanas de tensões entre israelitas e palestinianos em Jerusalém Oriental, que culminaram com confrontos na Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar sagrado do islão, junto ao local mais sagrado do judaísmo. Ao lançamento maciço de 'rockets' por grupos armados em Gaza em direção a Israel opõe-se o bombardeamento sistemático por forças israelitas contra a Faixa de Gaza.

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