Bloqueio no Suez: Ever Given já mexeu 17 metros. Hélices e leme foram libertados mas ainda é preciso dragar 20 mil metros cúbicos de areia
Anadolu Agency
O cargueiro está há cinco dias a bloquear o tráfego numa das mais importantes rotas de comércio do mundo, por onde passam cerca de 12% de todas as mercadorias que transacionamos. Já se mexeu 17 metros, mas tem 400, um arranha-céus. Continuam os trabalhos de retirada das areias e espera-se a ajuda das marés para conseguir pôr o gigante Ever Given de novo a flutuar. Leme e hélice foram desenterrados este domingo
As equipas multinacionais que há cinco dias estão a tentar libertar o navio Ever Given que encalhou no canal do Suez já conseguiram libertar o leme e as hélices do cargueiro, aproveitando a maré alta. Agora continua o processo de dragagem de areia para tentar mover o monstro que seguia com toneladas de carga para todo o mundo antes de ter ficado preso no canal.
Até agora, o Ever Given (“Evergreen”, o que se lê nas enormes letras brancas pintadas de lado é o nome da empresa taiwanesa que detém este navio e outros com a mesma etimologia: Ever Gleamy, Ever Gentle, Ever Genius, etc), com 400 metros de altura, mexeu cerca de 17 metros para norte, para onde seguia.
Bloomberg/Getty
Como embateu nas margens, para que o Ever Given continue o seu caminho é preciso retirar quase 20 mil metros cúbicos de areias, isto porque só assim o cargueiro pode voltar a flutuar, soltando-se do fundo. A tentativa de sábado à noite falhou. “Infelizmente, a maré não ajudou a levantar o Ever Given”, escreveu no Twitter a empresa especializada em serviços de logística em diferentes canais e estreitos, a Leth Agencies. Amanhã é outro dia, e outra maré cheia.
O Suez é a forma mais segura e mais rápida de chegar do Golfo à Europa com carga industrial de grande porte. Em 2019, segundo a Autoridade Portuária do Suez, passaram pelo canal 18.800 navios - crude, comida e matérias-primas para a construção civil são apenas três das mercadorias de primeira necessidade que passam todos os dias por este canal.
A outra forma de fazer a travessia para a Europa passa por contornar todo o continente africano, utilizando a antiga rota do Cabo da Boa Esperança. É um percurso que demora muito mais tempo e por isso é extremamente dispendioso para as empresas transportadoras mas esta semana, analisando as muito baixas probabilidades de que o Ever Given viesse a ser libertado em tempo útil, centenas de embarcações alteraram as coordenadas e seguiram para essa viagem que também é um pouco uma viagem no tempo.
As imagens da concentração de embarcações à volta do continente africano, da página de monitorização do tráfego marítimo por satélite e geolocalização Marine Traffic correram mundo.
Os números deste bloqueio são todos bastante impressionantes. Por exemplo: em cinco dias, pelo menos 27.600 metros cúbicos de mercadoria ficaram retidos por causa do Ever Given. Ou: a fila de espera é de 320 cargueiros. Ou ainda: o processo de retirada do navio, quando começar, vai decorrer a cerca de dois nós de velocidade, o que não chega a dois quilómetros por hora, por isso vai demorar dezenas de horas.
Por último: as milhas de caminho quase duplicam se a travessia tiver de ser feita por África: de aproximadamente 6400 para 11.100.
Os danos do bloqueio, que impede a passagem de mais de 8 mil milhões de euros por dia, segundo a Lloyd’s List, vão além do que é economicamente quantificável para já.
O “Financial Times” escrevia na sexta-feira que várias multinacionais de transporte marítimo já contactaram a marinha americana à procura de proteção contra a pirataria. Tanto para os navios que farão quase 10 mil km para atravessar o Cabo da Boa Esperança, como para os que ficaram ancorados perto do canal do Suez.
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