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Joe Biden diz que Vladimir Putin é “um assassino” e vai pagar pelo que fez

Os Presidentes russo e americano caricaturados num protesto pacifista em Berlim, em janeiro de 2021
Os Presidentes russo e americano caricaturados num protesto pacifista em Berlim, em janeiro de 2021
John Macdougall/AFP/Getty Images

Presidente dos Estados Unidos acusou homólogo russo em entrevista televisiva, no dia em que os serviços secretos americanos confirmaram suspeitas de ingerência do Kremlin nas presidenciais de novembro de 2020

Joe Biden diz que Vladimir Putin é “um assassino” e vai pagar pelo que fez

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

O Presidente dos Estados Unidos da América afirmou que o seu homólogo russo é um “assassino” e prometeu fazer a Rússia pagar pela alegada interferência nas eleições presidenciais americanas de 3 de novembro de 2020. Joe Biden falava à cadeia televisiva ABC na terça-feira, dia em que um relatório dos serviços secretos indicou que Vladimir Putin ordenou manobras que favorecessem o ex-Presidente Donald Trump na disputa pela Casa Branca.

Inquirido sobre o pivô George Stephanopoulos sobre se acredita que Putin é “um assassino”, Biden assentiu com a cabeça e concordou, informa o site Bloomberg. O dirigente russo “pagará o preço” da sua ingerência, prometeu o Presidente americano, assegurando que tal acontecerá “em breve”.

Biden afirma ter tido uma “longa conversa” com Putin em janeiro, ao telefone, durante a qual lhe terá dito: “Eu conheço-o e você conhece-me. Se eu comprovar que isto aconteceu, esteja preparado”. O americano garante que não estava “armado em esperto” e que o russo lhe respondeu: “Estamos entendidos”.

O chefe de Estado americano contou na entrevista outra tirada que dirigiu a Putin, referindo-se a encontros passados: “Olhei-o nos olhos e não creio que tenha alma”. Contraria a avaliação feita há 20 anos pelo então Presidente George W. Bush, que disse sobre o russo: “Olhei aquele homem nos olhos e consegui vislumbrar a sua alma”.

Repetição de 2016

O relatório indica que o regime russo ajudou a espalhar na Internet teorias da conspiração favoráveis a Trump e esforços para desacreditar Biden. Já na eleição anterior, em 2016, Moscovo interferira a favor de Trump e contra a democrata Hillary Clinton, concluiu a investigação americana. Averiguações posteriores não permitiram provar para lá de dúvida razoável que o milionário nova-iorquino estivesse ao leme de tal manipulação, mas confirmaram ligações entre a sua campanha e o Kremlin. Alguns próximos seus foram condenados e presos.

O documento refere ainda cidadãos ucranianos conluiados com serviços secretos russos para alegar que Biden e a sua família tinham “ligações corruptas” à Ucrânia, noticia o jornal inglês “The Independent”. O objetivo seria, segundo o relatório, “denegrir a candidatura do Presidente Biden e o Partido Democrata, apoiar o ex-Presidente Trump, minar a confiança pública no processo eleitoral e exacerbar as divisões sociopolíticas nos Estados Unidos”. Recorde-se que Trump nunca reconheceu a vitória de Biden, confirmada por responsáveis locais, estaduais e federais do seu partido e pela justiça americana.

A divulgação do relatório, agora consumada, foi travada em dezembro último — antes da tomada de posse de Biden mas já depois da sua vitória nas urnas — pelo então diretor dos serviços de informações americanos, John Ratcliffe, próximo de Trump. Alegou necessitar de aprofundar o inquérito com informações sobre a ameaça chinesa, escreve a Bloomberg. O documento de terça-feira indica que Pequim “não fez esforços de interferência” nas presidenciais.

O desmentido de Moscovo

Putin sempre desmentiu qualquer intervenção do Kremlim na democracia americana. O seu porta-voz, Dmitry Peskov, criticou o que considera ser um relatório “absolutamente infundado”. Acrescentou: “É lamentável que o início de cada mandato presidencial nos Estados Unidos apreça estar ligado à imposição de sanções à Rússia”. Os mercados acusaram o toque das palavras de Biden. A cotação do rublo abriu, quarta-feira, a perder 1,6% face ao dólar.

Acusações à Arábia Saudita

Em noite dura para com líderes autoritários, Biden contou ainda ter clarificado perante a Arábia Saudita que “as coisas vão mudar” entre Washington e Riade devido ao assassínio, em 2018, do jornalista Jamal Khashoggi, ordenado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, segundo investigações que o regime saudita desmente. Para Riade, foi uma operação de segurança que correu mal, não uma ordem vinda de cima.

Khashoggi, que escrevia no diário americano “The Washington Post”, foi assassinado brutalmente no consulado saudita em Istambul, onde fora buscar documentos para o seu casamento. Era crítico da ditadura saudita. O seu corpo desapareceu, crendo-se que terá sido dissolvido em ácido.

Cinco homens foram condenados à morte pelo crime na Arábia saudita. Mais tarde as suas penas foram comutadas.

“Responsabilizámos toda a gente naquela organização, mas não o príncipe herdeiro”, reconheceu Biden. Explicou porquê: “Tanto quanto sei, quanto temos uma aliança com um país nunca atacamos o chefe de Estado em funções nem castigamos e ostracizamos essa pessoa.”

Biden falou ainda à ABC de mudanças nas políticas de imigração, reforma do Senado, leis eleitorais, combate à covid-19, e as acusações de abuso sexual contra o governador de nova-iorque, Andrew Cuomo, seu companheiro de partido. Repetindo o pedido de uma investigação independente e cabal, o Presidente admitiu que o governador terá de demitir-se caso se comprovem as acusações. “Creio que é provável que acabe por ser acusado”, reconheceu.

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