O ex-Presidente Lula da Silva durante uma conferência de imprensa em São Paulo
AMANDA PEROBELLI/Reuters
Sereno, com voz cava, sem máscara (pediu licença para tirá-la, dizendo que todos tinham sido testados), o ex-Presidente falou em São Paulo, perante jornalistas e camaradas do Partido dos Trabalhadores. Um dia depois de terem sido anuladas as acusações contra si, disse: “O sofrimento que o povo brasileiro está passando é infinitamente maior do que qualquer crime que cometeram contra mim”
Falou para a classe política, porque é com os deputados “que o povo escolheu” que deseja dialogar: “Quero conversar com a classe política. Preciso conversar com os empresários. Quero saber que loucura é essa. Eles precisam entender que se eles quiserem crescer, o povo precisa ter renda. Não tenham medo de mim. Eu sou radical porque eu quero ir na raiz dos problemas”.
Eis Luiz Inácio Lula da Silva regressado à política. Depois de o juiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter anulado as condenações por corrupção que o impediram de concorrer às presidenciais de 2018, o homem que governou entre 2003 e 2011 surge como forte aspirante às eleições do outono do ano que vem.
O ex-Presidente, que passou 580 dias preso, disse que a última segunda-feira “foi um dia gratificante”. “Sou agradecido ao ministro Fachin, porque cumpriu uma coisa que a gente reivindicava desde 2016”, afirmou. Lula acrescentou que acredita que “a verdade vencerá”. Falou esta quarta-feira de manhã em São Paulo (tarde em Portugal), no Sindicato dos Metalúrgicos, onde se estreou na vida sindical e política no final dos anos 60. A ouvi-lo estava uma plateia de jornalistas e militantes do Partido dos Trabalhadores (PT).
“Lava Jato desapareceu da minha vida”
“Estou muito de bem com a vida. A Lava Jato desapareceu da minha vida”, garantiu, referindo-se à mega-operação no âmbito da qual foi julgado. “Estou satisfeito que tenha sido reconhecido o que meus advogados diziam. Sei que é constrangedor para quem me acusou parar de acusar. Olha como eu estou muito mais sereno do que o Bonner dando a notícia”.
Apoiantes de Lula celebraram a decisão do Supremo e querem vê-lo concorrer às presidenciais de 2022
Lula alerta para a crise que o Brasil está a atravessar: “Não há dor maior do que levantar de manhã e não ter a certeza de um café com pãozinho com manteiga para tomar, do que não ter um prato de feijão com farinha para dar ao filho, do que saber que está desempregado e não terá salário para sustentar a família”.
Esta decisão do STF anula “as condenações nos casos do triplex do Guarujá [São Paulo], com pena de oito anos e dez meses de prisão, e do sítio em Atibaia, na qual Lula recebeu pena de 17 anos de prisão”. Os processos seguirão para análise da Justiça Federal, em Brasília.
A reviravolta surge porque Fachin considerou que as acusações da equipa da Lava Jato contra Lula não estavam diretamente relacionadas com os desvios na Petrobras. Logo, deveriam ter sido julgadas fora do âmbito do megaprocesso.
Recorde-se que a sentença do caso do triplex [na ilha do Guarujá, estado de São Paulo] foi proferida pelo juiz Sergio Moro. No caso do sítio de Atibaia, Lula foi condenado pela juíza Gabriela Hardt. Moro veio a ser ministro da Justiça no Governo de Jair Bolsonaro, eleito nas presidenciais a que Lula se viu impedido de concorrer.
“A decisão também atinge o processo sobre supostas doações irregulares ao Instituto Lula. O processo ainda está em tramitação na 13ª Vara e também deverá ser enviado para Brasília”, informa a Agência Brasil.
