Pela primeira vez, EUA responsabilizam príncipe saudita pela morte de Jamal Khashoggi
Relatório foi divulgado esta sexta-feira e implica o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, na morte do jornalista, em 2018
Relatório foi divulgado esta sexta-feira e implica o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, na morte do jornalista, em 2018
Jornalista
Confirmam-se as notícias adiantadas durante esta semana: segundo o relatório dos serviços secretos dos EUA sobre a morte de Jamal Khashoggi, em 2018, o príncipe saudita Mohammed bin Salman aprovou o plano para sequestrar o jornalista, plano esse que culminou com o seu assassínio.
É a primeira vez, desde a morte do jornalista saudita, que os EUA se referem diretamente a Mohammed bin Salman, implicando-o no crime. Segundo o “New York Times”, o relatório de quatro páginas descreve quem matou Khashoggi e tudo aquilo que o príncipe saudita sabia sobre a operação para sequestrar o jornalista durante uma visita sua ao consulado saudita em Istambul, onde se dirigira, no dia, para tratar de um assunto burocrático. Também se explica como é que a CIA chegou à conclusão de que Mohammed bin Salman aprovou esse plano.
“Chegámos à conclusão de que o príncipe Mohammed bin Salman aprovou uma operação em Istambul, na Turquia, para sequestrar ou assassinar o jornalista saudita Jamal Khashoggi”, refere o relatório divulgado pela diretora nacional de informação, Avril Haines, de acordo com o “New York Times”.
Ainda de acordo com o jornal norte-americano, o relatório contém as conclusões a que chegou a CIA em 2018. Cruzando informações de várias fontes, incluindo um contacto entre o irmão do príncipe herdeiro, também embaixador da Arábia Saudita nos EUA, e Jamal Khashoggi, a agência concluiu que bin Salman aprovou a morte do jornalista, adiantou na altura o “Washington Post”. A CIA não quis pronunciar-se sobre o assunto e o reino saudita negou qualquer responsabilidade do príncipe herdeiro na morte do jornalista. Agora, porém, a decisão foi outra.
De Joe Biden, presidente dos EUA, espera-se que tome uma posição firme em relação ao assunto. Na semana passada, Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, afirmou que a divulgação do relatório seria acompanhada de outras ações, no sentido de responsabilizar todos aqueles que estiveram envolvidos no crime. Na tão aguardada conversa telefónica que teve na quinta-feira com o rei Salman, pai de Mohammed bin Salman, Joe Biden destacou “a importância que os direitos humanos e o Estado de direito têm para os EUA”.
Segundo fontes citadas pela Reuters, a nova administração norte-americana está a ponderar suspender os contratos para a venda de armas que tem com a Arábia Saudita, bem como limitar, no futuro, as vendas de arsenal militar a armas “defensivas”.
Jamal Kashoggi, saudita de 59 anos que vivia exilado nos EUA (era cronista do “Washington Post”) foi assassinado no consulado do seu país em Istambul, a 2 de outubro de 2018, por agentes sauditas. A princípio, a Arábia Saudita negou qualquer responsabilidade, mas mais tarde alegou que o jornalista foi morto acidentalmente por agentes que tentavam extraditá-lo. Segundo Riade, esses mesmos agentes agiram por sua iniciativa e não com o conhecimento ou a conivência do príncipe herdeiro. Oito pessoas foram condenadas na Arábia Saudita pela morte de Khashoggi, cinco das quais à pena capital. Mais tarde estas sentenças foram substituídas por penas de 20 anos de prisão.
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