O Conselho de Negócios Estrangeiros desta segunda-feira marcou o início formal do processo de reaproximação entre os EUA e a União Europeia (UE). O secretário de Estado norte-americano esteve presente, por videoconferência, num encontro que reúne habitualmente os ministros dos Negócios Estrangeiros dos vários estados-membros, em que a participação de Antony Blinken, segundo Augusto Santos Silva, “excedeu as nossas melhores expectativas, tal foi a convergência de posições”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, que falou aos jornalistas após a reunião, referiu ainda “a forma absolutamente cristalina como a nova administração norte-americana disse ‘nós estamos de regresso’ ”. Estamos de regresso ao multilateralismo, estamos de regresso às grandes agendas globais e de regresso à valorização da ligação com a União Europeia e dos laços transatlânticos”.
Neste primeiro encontro formal entre os EUA e a UE desde que a administração de Joe Biden tomou posse, também Josep Borrell disse que a conversa foi “muito positiva” e que as duas potências estão focadas “não só no aprofundamento da parceria mas também numa liderança global conjunta no processo de luta contra a pandemia, de gestão da recuperação económica, de mitigação das alterações climáticas e de promoção de valores democráticos”.
“A democracia está a ser ameaçada”, sublinhou ainda o alto representante para a política externa e de segurança da União Europeia, existindo neste momento no mundo “uma batalha de narrativas em torno de qual é o sistema que melhor serve as populações”. “Temos de demonstrar que a democracia é melhor do que qualquer outro sistema”, referiu, adiantando que ambos - EUA e UE - vêem no outro o melhor parceiro nessa luta.
Borrell referiu igualmente que “há um entendimento comum de que precisamos de trabalhar mais em conjunto” e reforçar e fazer novas parcerias, nomeadamente em relação à Rússia, Ucrânia, Médio Oriente, África e América Latina.
A eleição de Biden trouxe consigo a esperança de uma reaproximação entre os Estados Unidos e a União Europeia e do retomar da cooperação transatlântica, depois das feridas abertas por Trump nas relações diplomáticas entre ambos. No entanto, e apesar do tom optimista desta segunda-feira, há divergências entre ambos que persistem independentemente de quem está em Washington, nomeadamente no que diz respeito à relação com a China, e que se verá, a prazo, como vão ou não conseguir ser geridas.
Nesta reunião do Conselho de Negócios Estrangeiros, e para além da decisão de avançar com sanções contra a Rússia, foi decidido iniciar “um processo de aplicação de sanções aos militares birmaneses que estiveram por trás do golpe de estado e que estão a conduzir uma repressão em Myanmar que nós não podemos aceitar”, explicou Santos Silva.
Quanto à Venezuela, foi decidido acrescentar “um conjunto de personalidades venezuelanas à lista de personalidades venezuelanas sancionadas por violações grosseiras dos direitos humanos e restrições às liberdades fundamentais na Venezuela”, disse o ministro português.
Sobre Hong Kong, os dois responsáveis referiram que está a ser posta em causa, por Pequim, a fórmula de “um país, dois sistemas”, com a situação na antiga colónia britânica a deteriorar-se de dia para dia. “É necessário tornar clara perante a China a nossa avaliação e apoiar todos aqueles que lutam pela preservação do espaço democrático”, disse Josep Borrell.
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