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Bolsonaro volta a elogiar tempos da ditadura militar: "Era um regime um pouco diferente do que temos hoje"

Bolsonaro volta a elogiar tempos da ditadura militar: "Era um regime um pouco diferente do que temos hoje"
Rodrigo Paiva

Esta quinta-feira, Jair Bolsonaro entregou, numa cerimónia, títulos de posse de terra a agricultores de Alcântara, no Maranhão, onde está a base de lançamento de foguetes da Força Aérea. No discurso, deixou elogios aos tempos em que a base foi construída e a cinco presidentes. Eram tempos de ditadura militar

Em 2016, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, Jair Bolsonaro votou “sim” em memória do “pavor” da então Presidente, o coronel Carlos Brilhante Ustra, a quem em agosto de 2019 chamou “herói nacional”. Pouco antes, em março, o Governo sugeriu celebrarem-se os 55 anos do golpe militar no país. A ideia era “recuperar a narrativa verdadeira da história” do Brasil. Há quase um mês, Bolsonaro disse o seguinte: "Quem decide se um povo vai viver numa democracia ou numa ditadura são as suas Forças Armadas”.

Esta quinta-feira, Bolsonaro entregou numa cerimónia títulos de posse a agricultores de Alcântara, no Maranhão, onde está a base de lançamento de foguetes da Força Aérea. Ou o Centro de Lançamento de Alcântara. No discurso deixou elogios aos tempos em que a base foi construída e a cinco presidentes. Eram tempos de ditadura militar.

“Isto aqui nasceu em 1983 e foi mais uma das grandes obras dos cinco presidentes militares que tivemos no Brasil”, disse, aqui citado pela “Folha de São Paulo”. E continuou: “Grandes obras ao longo de 21 anos onde vivia um regime de… um pouco diferente do que temos hoje, mas de muita responsabilidade com o futuro do país.” Aquele equipamento militar, “uma prova” de grandes obras segundo Bolsonaro, foi inaugurado no primeiro dia de março de 1983, durante o Governo de João Figueiredo, conta o site de notícias UOL.

Em 2014, o relatório da Comissão Nacional da Verdade sobre a repressão e tortura durante a ditadura deu conta de 210 desaparecidos, 191 mortes e outros 33 corpos encontrados posteriomente. O documento de 4.328 páginas identificou 377 agentes responsáveis pela repressão e revelou que pelo menos 6591 militares foram perseguidos pelo regime, sendo eles maioritariamente da Aeronáutica (3340) e da Marinha (2214). Mais: quando Ustra chefiou o DOI-Codi, em São Paulo, foram sinalizadas pelo menos 45 mortes e desaparecimentos.

Em junho de 2020, uma sondagem da Datafolha mediu a relação dos brasileiros com a democracia e com a ditadura militar. Sobre a primeira, 75% dos inquiridos afirmaram que a democracia é sempre melhor do que qualquer outra forma de governo. Dez por cento indicaram que, em certas circunstâncias, é melhor uma ditadura do que um regime democrático. Já 12% admitiu que era indiferente se o governo é uma democracia ou uma ditadura.

Sobre se existiu ditadura militar, 78% dos inquiridos disseram que sim, enquanto 13% negaram-no. Já 10% disse não saber. Sobre o legado desse regime militar, 62% disse que a ditadura deixou mais realizações negativas, enquanto 25% acreditava que a ditadura deixou mais realizações positivas. Os indecisos, ou que disseram não saber, eram 13% dos inquiridos.

Essa sondagem descobriu outras duas coisas: entre os apoiantes de Jair Bolsonaro, 43% dizia que a ditadura deixou mais coisas positivas do que negativas, ou seja, um legado mais positivo do que negativo. A segunda descoberta tem a ver com a classe social: os mais ricos tenderam a ser mais favoráveis ao regime militar (36%) do que a média (12%).

A ditadura militar brasileira esteve vigente entre 1964 e acabou em 1985. Três anos depois foi aprovada uma nova Constituição que garantiu e restabeleceu vários direitos e liberdades.

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