Mulher de 95 anos acusada de cumplicidade em 10 mil mortes durante o regime nazi
Chama-se Irmgard F. e é agora acusada de cumplicidade na morte de muitos judeus no campo de concentração nazi de Stutthof. Era secretária do comandante do campo
Chama-se Irmgard F. e é agora acusada de cumplicidade na morte de muitos judeus no campo de concentração nazi de Stutthof. Era secretária do comandante do campo
Jornalista
O Ministério Público alemão acusa uma mulher de 95 anos de ter apoiado e sido cúmplice da morte de mais de 10.000 pessoas enquanto trabalhava como secretária no campo de concentração de Stutthof.
A acusação contra a mulher, identificada apenas como Irmgard F. , acontece após cinco anos de investigação. Mas, como na época dos assassinatos era menor de 21 anos, segundo a lei alemã, será julgada num tribunal de menores, onde poderá receber uma sentença mais leve.
Irmgard F. trabalhou, entre junho de 1943 e abril de 1945, como secretária do comandante do campo de concentração, situado perto de Gdansk, na Polónia, cidade conhecida como Dazing durante o período de domínio alemão.
“Trata-se da sua responsabilidade real naquilo que acontecia diariamente no campo", diz à imprensa Peter Müller-Rakow, advogado do Ministério Público em Itzehoe, a norte de Hamburgo, onde vive, num lar, Irmgard F.
Um tribunal regional vai decidir se dá seguimento à acusação e se dá início a um julgamento, um processo que pode levar poucos meses ou anos a concluir.
No ano passado, uma homem de 93 anos foi condenado por um tribunal regional de Hamburgo por ter sido cúmplice da morte de 5230 pessoas, quando tinha 17 anos e era guarda no mesmo campo de concentração de Stutthof.
Mais de 60 mil pessoas morreram ou foram mortas em Stutthof, o primeiro campo de concentração nazi a ser estabelecido fora das fronteiras alemãs.
Com as últimas pessoas a cometer atrocidades durante o regime nazi próximas da morte, as autoridades alemãs têm tentado levar a tribunal o maior número delas possível.
John Demjanjuk, que trabalhou durante anos como funcionário de uma oficina nos Estados Unidos da América, foi considerado culpado por um tribunal de Munique em 2011, acusado de ter matado 28 mil judeus, enquanto foi guarda no campo de Sobibor, na Polónia ocupada pela Alemanha, em 1943.
O caso vai focar-se na hipótese de a secretária ter intervindo nas atrocidades cometidas pelos guardas do campo. Os advogados do Ministério Público defendem que a mulher já admitiu que muita da correspondência do campo e muitos outros ficheiros passaram pela sua secretária e que sabia do assassinato de alguns presos. Mas Irmgard F. mantém que não sabia que os presos estavam a ser mortos em massa nas câmaras de gás. A mulher referiu ainda que a janela do seu escritório não dava para o campo de concentração e que por isso não podia ver o que se estava a passar.
“É justo dizer que a maioria destas mulheres sabiam da perseguição aos judeus e que algumas delas sabiam que eles estavam a ser assassinados", diz ao jornal norte-americano Rachel Century, uma historiadora britânica que escreveu um livro sobre a administração das mulheres no Terceiro Reich. "Algumas secretárias desempenhavam funções que lhes davam mais acesso à informação do que a outras".
Segundo uma rádio pública que entrevistou a antiga secretária no ano passado, Irmgard F. tinha ido a tribunal como testemunha em 1957, quando o comandante do campo de concentração, Paul Werner Hoppe, foi a julgamento. Hoppe foi condenado pelos seus crimes, mas libertado em 1960, tendo falecido em 1974.
Os advogados do Ministério Público, porém, não forneceram detalhes sobre a vida da antiga secretária depois de ter trabalhado em Stutthof.
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