Internacional

Mario Draghi aceita formar Governo em Itália: “Temos oportunidade de fazer grandes coisas neste país”

Mário Draghi deixou a presidência do Banco Central Europeu em 2019
Mário Draghi deixou a presidência do Banco Central Europeu em 2019
REUTERS/Ralph Orlowski

Presidente Sergio Mattarella considerou inconveniente convocar eleições antecipadas num momento de crise pandémica e necessidade de planear a utilização dos fundos europeus. Investidura de Draghi depende do Parlamento

Mario Draghi aceita formar Governo em Itália: “Temos oportunidade de fazer grandes coisas neste país”

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

Mario Draghi será o próximo primeiro-ministro italiano, se for confirmado pelas duas câmaras do Parlamento. O porta-voz do Presidente Sergio Mattarella anunciou às 13h15 locais (12h15 em Portugal Continental) que Draghi aceitou o convite com reserva, isto é, sujeito à viabilização pelos partidos políticos.

“Temos oportunidade de fazer grandes coisas”, afirmou o indigitado, esta quarta-feira, ao dirigir-se aos italianos após uma hora de conversa com o chefe de Estado. Numa intervenção breve em tom emocionado, indicou como prioridades “vencer a pandemia e relançar o país” e prometeu dialogar com os partidos, “confiante em que surja unidade” suficiente para empossá-lo.

Mattarella recebera de manhã o homem de quem se diz que salvou o euro enquanto presidente do Banco Central Europeu (2011-19), e que o chefe de Estado deseja ver no lugar do demissionário Giuseppe Conte.

Gorada a possibilidade de reconstituir a maioria de centro-esquerda que apoiava Conte (e que se desfez por retirada de apoio do partido Itália Viva, IV, do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi), o Presidente inclina-se para um Executivo tecnocrático.

Face à impossibilidade de reconciliar a IV com o Partido Democrático (PD, centro-esquerda), o Movimento 5 Estrelas (M5S, antissistema) e o Livres e Iguais (esquerda), o Presidente explicou comparência a meio da manhã que tinha “duas vias alternativas”: empossar um “novo governo adequado a enfrentar a emergência sanitária, social, económica e financeira” que Itália atravessa, ou antecipar as legislativas, que normalmente aconteceriam em 2023.

Ir a votos é inoportuno

Embora reconhecendo que “eleições representam um exercício de democracia”, Mattarella não considera oportuno chamar os concidadãos às urnas. Justifica tal posição com o “longo período de campanha eleitoral”, que implica “atividade reduzida” para o Executivo cessante, que está em gestão corrente.

Antecipar as legislativas foi a opção defendida pelos partidos de direita: Liga (xenófobo), Irmãos de Itália (direita nacionalista), Força Itália (centro-direita, de do antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi).

A Liga chegou a estar na base do primeiro Executivo de Conte, em aliança com o M5S. Depois o seu líder, Matteo Salvini, saiu da coligação na esperança de forçar uma ida às urnas, em 2019, quando as sondagens lhe sorriam. Mattarella preferiu reconduzir Conte, depois de verificar que havia uma maioria alternativa com o centro-esquerda para viabilizá-lo.

Agora o chefe de Estado prefere um Governo que rapidamente entre em funções para enfrentar o “deasfio decisivo da campanha de vacinação” e apresentar à União Europeia, em abril, o plano de utilização dos fundos de apoio aos Estados-membros na sequência da pandemia.

Draghi será provavelmente um primeiro-ministro tecnocrático (não resultante de eleições e rodeado de independentes), dez anos depois de Mario Monti, chamado a governar Itália no auge da crise do euro. No mesmo ano Draghi, que chefiara o banco central transalpino, subiu a chefe do BCE, cargo no qual prometeria fazer “tudo o que fosse preciso” para salvar a moeda única.

Dependente do Parlamento

Para estar “em plenitude de funções”, como deseja Mattarella, o Governo terá de congregar a confiança da Câmara dos Deputados e do Senado. Draghi explorará em conversações junto dos partidos com representação parlamentar as hipóteses de ser investido. Caso lhe pareça viável, escolherá ministros em concertação com o Presidente. Dez dias após tomar posse sujeitar-se-á à vontade dos deputados e senadores, apresentando-lhes o seu programa. Que tudo indica terá de ser objeto de negociação prévia com as forças políticas.

Para já expressaram apoio a Draghi o IV e o PD, ao passo que o M5S (cujos dirigentes se dividem quanto à questão) anunciou que consultaria as bases. Já Salvini, da Liga, afirmou que “não interessa o nome, mas o que vai fazer”. Berlusconi, que escolheu Draghi para o banco central, poderá aceitar apoiá-lo.

Se Draghi concluir que não é possível obter a maioria, Mattarella pode encarregar outra personalidade de formar Governo, insistir na viabilização renovada do Governo de Conte ou dissolver o Parlamento e marcar eleições legislativas.

A democracia italiana caracteriza-se por alta instabilidade. Teve 66 governos nos últimos 76 anos, isto é, desde a instauração da democracia, após a derrota do fascismo na II Guerra Mundial.

As bolsas italianas reagiram bem à ideia de Draghi vir a chefiar o Executivo, noticia a agência noticiosa italiana Ansa.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: pcordeiro@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate