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As 10 palavras que Joe Biden mais repetiu no discurso de tomada de posse

Nuvem das principais palavras que Joe Biden usou no seu discurso de tomada de posse, a 20 de janeiro
Nuvem das principais palavras que Joe Biden usou no seu discurso de tomada de posse, a 20 de janeiro

Num discurso que durou quase 22 minutos, o novo Presidente dos Estados Unidos da América falou ao coração dos norte-americanos repetindo, em particular, dez palavras. Com elas, procurou olhar para o passado dos Estados Unidos e projetar o futuro do país, do qual é agora o principal timoneiro

Margarida Mota

Jornalista

AMÉRICA

“Este é o dia da América.” Assim iniciou Joe Biden o seu discurso. Repetiria a palavra “América” mais 20 vezes, ora para se referir ao passado histórico dos Estados Unidos ora para galvanizar os norte-americanos em relação aos desafios futuros.

Perto do final, o Presidente invocou uma canção que lhe diz muito, segundo o próprio. “American Anthem”, composta no final dos anos 1990, fala do “sonho de uma nação onde a liberdade durará” e de como a dignidade é “aquilo que fortalece a alma de uma nação que nunca morre”.

Biden leu um excerto, como que se tivesse sido escrito em nome próprio: “O trabalho e as orações de séculos trouxeram-nos até este dia. / Qual será o nosso legado? Que dirão os nossos filhos? / Que o meu coração saiba, quando os meus dias acabarem / América, América, que dei o meu melhor por ti.

NAÇÃO

Biden repetiu esta palavra 15 vezes. Falou da “nação” como sentimento de pertença comum a todos os americanos e apelou à união de todos para que sejam curadas as feridas expostas pelo ataque ao Capitólio e, no imediato, seja vencida a batalha contra a covid-19.

“Meus compatriotas, no trabalho que temos pela frente, vamos precisar uns dos outros. Precisamos de todas as nossas forças para perseverarmos através deste inverno sombrio. Estamos a entrar no que pode ser o período mais difícil e mortal do vírus. Devemos deixar a política de lado e finalmente enfrentar esta pandemia como uma nação. Uma nação.

POVO

“O povo, a vontade do povo, foi escutada e a vontade do povo foi atendida”, disse Biden, acrescentando que ali se celebrava não a vitória de um candidato, mas da democracia.

Numa homenagem ao “povo” — palavra que proferiu 11 vezes —, o Presidente liderou uma oração em silêncio. “No meu primeiro ato enquanto Presidente, gostaria de pedir-vos que se juntem a mim num momento de oração silenciosa para recordar todos aqueles que perdemos neste último ano para a pandemia. Esses 400 mil americanos. Mães, pais, maridos, esposas, filhos, filhas, amigos, vizinhos e colegas de trabalho. Vamos honrá-los tornando-nos o povo e a nação que sabemos que podemos e devemos ser.”

Joe Biden profere o seu primeiro discurso enquanto 46º Presidente dos EUA, a 20 de janeiro
PATRICK SEMANSKY / AFP / Getty Images

DEMOCRACIA

Ao longo de todo o discurso, Biden partilhou a ideia de que a democracia norte-americana sobreviveu a ameaças. “Voltamos a aprender que a democracia é preciosa. A democracia é frágil. Neste momento, meus amigos, a democracia prevaleceu”, disse o Presidente. “Este é o dia da democracia.”

Biden socorreu-se igualmente do conceito de “democracia”, que repetiu 11 vezes, para dirigir-se diretamente aos 74 milhões de norte-americanos que não votaram nele.

“Para todos aqueles que não nos apoiaram, deixem-me dizer o seguinte: ouçam-me à medida que avançamos. Avaliem-me a mim e ao meu coração. Se ainda discordarem, seja. Isso é democracia. Essa é a América. O direito de discordar, pacificamente, a barreira de proteção da nossa república, é talvez a maior força desta nação.”

HOJE

Sem nunca se referir expressamente ao seu antecessor, Joe Biden proferiu várias vezes a palavra “hoje” — nove no total — para assinalar um voltar de página na governação do país.

Hoje, neste momento, neste lugar, vamos começar do zero, todos nós. Vamos começar a ouvir uns aos outros novamente. Escutar-nos uns aos outros, olharmos uns aos outros, mostrar respeito uns pelos outros. A política não necessita de ser um fogo furioso, que destrói tudo à sua passagem. Cada desacordo não precisa de ser razão para uma guerra total. E devemos rejeitar a cultura na qual os próprios fatos são manipulados e até fabricados.”

Tasos Katopodis / Getty Images

Biden reafirmou a importância do dia de “hoje” para realçar a tomada de posse da primeira mulher no cargo de vice-presidente, Kamala Harris. “Não me digam que as coisas não podem mudar.”

UNIDADE

Paralelamente aos elogios ao “povo” e à “democracia” norte-americanos, Joe Biden desdobrou-se em apelos à “unidade” entre todos. “Este é o nosso momento histórico de crise e desafio. E a unidade é o caminho a seguir”, disse o 46º Presidente. “Pois sem unidade não haverá paz — apenas amargura e fúria. Não haverá progresso — apenas uma indignação esgotante. Não haverá nação — apenas um estado de caos.”

Biden referiu a presença na cerimónia de antigos presidentes do Partido Democrata (Bill Clinton e Barack Obama,) e do Partido Republicano (George W. Bush). O democrata Jimmy Carter esteve ausente por razões de saúde mas Biden sublinhou que tinha falado com ele pelo telefone na véspera. O republicano Donald Trump saiu da Casa Branca sem reconhecer a vitória de Biden e não quis assistir à cerimónia. Não sucedia há 152 anos.

“Superar os desafios, restaurar a alma e garantir o futuro da América exige muito mais do que palavras. Requer o mais elusivo de todas as coisas numa democracia: Unidade. Unidade.” Citou esta palavra oito vezes.

A cerimónia de tomada de posse de Jie Biden decorreu no exterior do Capitólio, em Washington D.C.
Tasos Katopodis / Getty Images

HISTÓRIA

Biden falou oito vezes de “história” para invocar o passado e projetar o futuro. “História, fé e razão mostram o caminho, o caminho da unidade.”

E acrescentou: “Eu sei que falar de unidade pode soar para alguns como uma fantasia tola, hoje em dia. Eu sei que as forças que nos dividem são profundas e reais, mas também sei que não são novas. A nossa história tem sido feita de uma luta constante entre o ideal americano de que todos somos criados de forma igual e a dura e feia realidade de que o racismo, o nativismo, o medo e a demonização há muito nos separaram. A batalha é perene e a vitória nunca está garantida.”

DESAFIO

Poucas pessoas na história da nossa nação enfrentaram mais desafios ou depararam-se com tempos mais desafiadores ou difíceis do que o tempo que agora vivemos. Um vírus que acontece uma vez por século assola silenciosamente o país. Ceifou tantas vidas num ano como as vidas que foram perdidas em toda a Segunda Guerra Mundial. Perderam-se milhões de empregos. Centenas de milhares de empresas fecharam. Somos movidos por um grito por justiça racial, que dura há quase 400 anos. O sonho da justiça para todos não mais será adiado.”

Biden falou sete vezes de “desafio”, particularizando a crise ambiental, o extremismo político, a supremacia branca e o terrorismo interno.

“Amigos, este é um tempo que nos põe à prova. Enfrentamos um ataque à nossa democracia e à verdade, um vírus rompante, desigualdade lancinante, racismo sistémico, uma crise climática, o papel da América no mundo. Qualquer um destes é suficiente para nos desafiar de formas profundas.”

GUERRA

Por sete vezes o novo Presidente proferiu a palavra “guerra”, para enumerar conflitos passados e enfatizar como perante a luta, o sacrifício e os desaires, os norte-americanos sempre prevaleceram — a guerra civil (1861-1865), a Grande Depressão (1929-1939), a II Guerra Mundial (1939-1945) e o 11 de Setembro (2001).

Recordou que o Capitólio, onde decorria aquela cerimónia, foi concluída durante a guerra civil e admitiu que em 2021, os Estados Unidos vivem outro tipo de guerra. “Temos de pôr fim a esta guerra incivil que põe vermelho [republicanos] contra azul [democratas], rural contra urbano, conservador contra liberal.”

GRANDE

Foi um dos adjetivos preferidos de Donald Trump e uma presença constante no seu limitado discurso. Joe Biden repetiu-o seis vezes para exaltar a “grande nação” americana, para dizer que “podemos fazer grandes coisas” e para incentivar a que todos contribuam para escrever “o próximo grande capítulo da história dos Estados Unidos da América”.

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