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Estados Unidos: democratas conquistam 50 senadores, os mesmos que os republicanos, mas quem vai desempatar é Kamala Harris

Estados Unidos: democratas conquistam 50 senadores, os mesmos que os republicanos, mas quem vai desempatar é Kamala Harris
KEVIN LAMARQUE/REUTERS

Com a eleição de dois senadores no estado da Geórgia, os democratas conseguiram assumir o controlo do Senado, que estava nas mãos dos republicanos. Há 50 senadores para cada partido, a que se soma, do lado democrata, a vice-Presidente Kamala Harris, que tem direito a voto de desempate

Os republicanos perderam a Presidência, não reverteram a maioria democrata na Câmara dos Representantes e também perderam o controlo do Senado. Há mais de cem anos que isto não acontecia a um Presidente dos Estados Unidos.

As duas segundas-voltas no estado da Geórgia, um estado fortemente republicano, palco de alguns dos piores episódios de segregação racial no país quando ainda existia a divisão entre estados contra a escravatura e estados onde os líderes políticos a defendia, acabaram por resultar na vitória de dois democratas: Jon Ossoff, 33 anos, diretor de uma produtora de vídeo sem qualquer experiência política, e Raphael Warnock, reverendo de Atlanta, de 51 anos, que, com a sua eleição, se torna o primeiro senador negro de sempre a ser eleito pelos democratas da Georgia.

Estas vitórias são de uma enorme importância para os democratas já que a agenda do Presidente eleito, Joe Biden, poderia ver-se totalmente paralisada se a Câmara dos Representantes (maioria democrata) e o Senado (que até bem recentemente ninguém previa que caísse para o lado democrata e foi republicano quatro anos) não se conseguissem entender. Muitas das medidas que ele apresentou durante a sua campanha, como o aumento do salário mínimo, aprovação de estímulos económicos adicionais para combater os efeitos da pandemia ou a expansão da assistência médica provavelmente não se tornariam uma realidade, ou sê-lo-iam muito mais tarde, depois de muito mais discussão com os senadores republicanos. Mesmo assim, estas vitórias não abriram todas as vias a Biden, o papel mais importante continua nas mãos dos moderados dos dois lados, porque algumas mudanças só mesmo com o acordo de dois terços do Senado (foi assim que Donald Trump evitou ser removido no seu processo de 'impeachment')

Warnock é reverendo na igreja batista de onde Martin Luther King Júnior esculpiu alguns dos mais importantes sermões do seu agora lendário ativismo pelos direitos dos negros. “Ontem, porque isto é a América, as mesmas mãos de 82 anos que costumavam escolher entre as plantas o algodão, escolheram o filho mais novo para senador”, escreveu Warnock, de 51 anos, numa breve nota enviada aos seus apoiantes quando a sua vitória se confirmou.

A vitória de Warnock é um símbolo de uma mudança marcante na política da Geórgia que tem acontecido lentamente e longe das grandes lentes mediáticas precisamente por ser este ser um estado que não se via colorido com a cor azul desde que Bill Clinton o conquistou em 1992. Mas à medida que o número de eleitores mais jovens, com mais habilitações académicas e também mais multirraciais cresce e se congrega nas cidades como Atlanta, o voto democrata também se vai robustecendo.

Os derrotados destas duas segundas-voltas (na Geórgia acontecem quando nenhum candidato tem 50% na primeira) são dois nomes respeitados junto do círculo próximo de Presidente Donald Trump: David Perdue e Kelly Loeffler, que nunca se afastaram dele, nem depois de terem visto que afinal era possível que um democrata, Joe Biden neste caso, conseguisse recuperar o estado.



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