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Trump quer garantias de que não será acusado, afirma o seu antigo porta-voz Anthony Scaramucci

Outrora seu porta-voz, Anthony Scaramucci tornou-se um feroz crítico de Donald Trump
Outrora seu porta-voz, Anthony Scaramucci tornou-se um feroz crítico de Donald Trump
Cole Burston / Bloomberg / getty images

O homem que foi diretor de comunicação da Casa Branca durante dez dias em 2017 critica o Partido Republicano por alinhar na teoria da conspiração sobre fraude eleitoral

Trump quer garantias de que não será acusado, afirma o seu antigo porta-voz Anthony Scaramucci

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

Donald Trump quer mais do que um perdão ou autoperdão presidencial, afirma um homem que trabalhou com ele na Casa Branca. Anthony Scaramucci, que foi diretor de comunicações da presidência dos Estados Unidos durante dez dias em julho de 2017, explicou esta quarta-feira na Web Summit que o que o ainda chefe de Estado deseja é “um acordo de não-acusação para si e para a sua família”.

Sem isso, assegura, o Presidente cessante “sabe que vai para a cadeia”. Investigado a nível federal e no estado de Nova Iorque por casos ligados aos seus negócios, Trump quer, a seu ver, assegurar imunidade nessas duas jurisdições.

Scaramucci, que hoje trabalha para a firma SkyBridge Capital, explica que esse acordo “é mais do que um perdão”, já que este último mecanismo implica ter sido condenado por um crime. Em vez de “semear o máximo de confusão”, como lhe parece que Trump tem feito, o ex-porta-voz da Casa branca sugere que “pegue no telefone, ligue a Joe Biden e diga exatamente o que quer”. Não tem esperanças, reconhece, de que Trump aproveite o telefonema para felicitar Biden pela vitória.

Voltar a unir o país

No mesmo painel a estratega política Sheila Nix, membro da equipa de transição de Biden, defendeu que o Presidente eleito fez bem em avançar com a transição, nomeando membros para a Administração e agarrando os dossiês. “Há muito trabalho pela frente e é isso que ele está a fazer”, afirmou esta jurista de formação, que chefiou o gabinete de Jill Biden, futura primeira-dama, durante os mandatos vice-presidenciais do marido.

“Se [Biden] conseguir lançar políticas que deem reposta aos problemas das pessoas que passam por dificuldades, conseguirá unir o país”, antevê Scaramucci. Lastima que haja muita gente no Partido Republicano que se preocupa em ser “mais trumpista do que Trump” e considera que estão desligados da realidade americana.

O especialista em comunicação política Joe Pounder, que trabalha para o Partido Republicano e interveio na mesma sessão virtual, considera que será melhor para a unidade nacional que se mantenha uma maioria republicana no Senado. “Até Joe Biden ficará contente, porque isso refreará a ala mais à esquerda do Partido Democrata”, explica. Defende ainda que tal reforçará o sistema de equilíbrios e contrapesos que caracteriza a política nos Estados Unidos, já que os democratas são maioritários na Câmara dos Representantes, a câmara baixa do Congresso.

Scaramucci durante a sessão virtual da Web Summit 2020
D.R.

Na câmara alta (Senado), as eleições de 3 de novembro deram 50 lugares aos republicanos e 48 aos democratas, havendo dois lugares à espera de segunda volta na Geórgia. Em caso de empate, o voto de qualidade cabe à futura presidente do Senado, que será a partir de janeiro, por inerência, a vice-presidente eleita Kamala Harris.

Pounder crê que muitos republicanos esperavam um melhor resultado nas presidenciais, mas frisa que Trump “teve um dos piores outubros de um Presidente em funções” e que a covid-19 e a quebra económica travaram a reeleição. “Isto foi um referendo sobre a pandemia. Politizar coisas como o uso de máscara foi um erro”, acrescentou Scaramucci.

Igualmente errado é, frisa, dizer-se que “a eleição foi roubada”. “Não percebo como é que republicanos que juraram a Constituição não contrariam este tipo”, prosseguiu. “Esta eleição foi muito mais renhida do que se antecipava”, contrapôs Pounder. “Logo, Biden não deve interpretar excessivamente o mandato que recebeu.” Scaramucci recordou-lhe que 306 votos no Colégio Eleitoral, que obteve Biden, foi um desempenho que há quatro anos Trump considerou espetacular.

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