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“Rituais de iniciação”: executar civis e encobrir os crimes. Exército da Austrália matou 39 pessoas no Afeganistão, diz relatório militar

“Rituais de iniciação”: executar civis e encobrir os crimes. Exército da Austrália matou 39 pessoas no Afeganistão, diz relatório militar
FARSHAD USYAN/Getty Images

Investigação de quatro anos levada a cabo por um Major-General do país recomendou que fosse aberta uma investigação criminal por crimes de guerra a 19 membros das forças armadas. Há registos de pelo menos 23 incidentes entre 2007 e 2013. Mais alto responsável militar pediu desculpa ao povo afegão

As forças militares da Austrália assassinaram pelo menos 39 civis do Afeganistão não combatentes, concluiu uma investigação de quatro anos liderada pelo Major General Paul Brereton, e que foi agora publicada.

O relatório encontrou “informação credível” que indica que cidadãos afegãos foram mortos em pelo menos 23 incidentes entre 2007 e 2013. Outras duas pessoas foram cruelmente tratadas. Há descrições de “rituais de iniciação” de jovens soldados australianos: eram ordenados pelos seus comandantes a “executar” pessoas que o exército tinha à sua guarda, alcançando assim a sua “primeira morte”. Depois, armas e rádios eram alegadamente colocadas nos cadáveres para mascarar os crimes.

Uma "profunda traição" das forças armadas do país, classificou Brereton, que aponta uma cultura de secretismo dentro das fileiras do exército: “Frequentemente, os sumários das operações e outros relatórios não reportavam os factos (...) muitas vezes usando linguagem padrão para ativamente demonstrar uma aparente conformidade com as regras.” Brereton garantiu que as circunstâncias poderiam constituir crimes de guerra, e recomendou uma investigação criminal contra 19 funcionários do exército australiano.

Depois da divulgação do relatório, o mais alto responsável militar australiano admitiu esta quarta-feira que havia provas credíveis de que as forças especiais cometeram este crime contra 39 cidadãos não-combatentes. "Ao povo do Afeganistão, em nome das forças de defesa australiana, peço sinceras e sem reservas desculpas por qualquer ato ilícito dos soldados australianos", disse o General Angus Campbell.

"Algumas patrulhas desrespeitaram a lei, as regras foram infringidas, as histórias inventadas, as mentiras contadas e os prisioneiros mortos", acrescentou o chefe do exército australiano. Também ele recomendou a acusação por crimes de guerra aos membros do seu regimento envolvidos. O militar anunciou a revogação de algumas medalhas atribuídas a forças de operações especiais que serviram no Afeganistão entre 2007 e 2013.

Segundo o jornal “The Guardian”, o braço da Cruz Vermelha na Austrália declarou sobre as descobertas do relatório: “deviam preocupar-nos a todos”. Scott Morrison, o primeiro-ministro australiano, telefonou ao Presidente afegão Ashraf Ghani para expressar a sua “tristeza mais profunda” pelas revelações.

No entanto, há muito que a imprensa australiana tem noticiado acusações muito graves contra as forças australianas: um homem alegadamente abatido para arranjar espaço num helicóptero, ou uma criança de seis anos morta durante uma rusga a uma casa, por exemplo. Mais de 26.000 soldados australianos foram enviados para o Afeganistão depois do 11 de Setembro para combater os Talibã, a Al-Qaeda e outros grupos extremistas.

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