Dois dias depois das eleições dos Estados Unidos, Brian Maiorana ameaçou o “explodir” o edifício do FBI. Também dirigiu ameaças a Chuck Schumer, o líder do Partido Democrata no Senado: “A carnificina precisa de chegar na forma de extermínio de todos aqueles que se dizem democratas… assim como dos seus familiares”, escreveu o cidadão norte-americano no fórum de extrema-direita MyMilitia. Também terá aproveitado a plataforma para debater formas de construir as suas próprias armas de fogo - Maioriana é um agressor sexual condenado e está por isso impedido de comprar armas.
Além de ter sido preso pela polícia entretanto, este homem fez com que o meio que usou para atacar a democracia do seu país voltasse a estar no centro das atenções. Segundo o “The Guardian”, as empresas tecnológicas que controlam os servidores do MyMilitia estão a ser pressionadas para banir a plataforma dos seus serviços. São elas a GoDaddy e a Cloudflare. A Google, através da Google Ads, tem uma parceria com o site, estando por isso a lucrar com a sua atividade - mas a empresa disse ao jornal inglês que está a rever o conteúdo da plataforma para verificar se viola as políticas da empresa.
“[As empresas] estão a jogar um jogo muito perigoso ao dar às pessoas a possibilidade de recrutar milícias extremistas durante um tempo tão arriscado politicamente no nosso país”, apontou Matt Rivitz, cofundador do grupo de ativismo online Sleeping Giants. “É chocante ver estas empresas não apenas a suportar [o grupo] mas a ganhar ativamente dinheiro com isso.”
O site ficou conhecido em 2017 depois de vários membros de uma milícia do estado do Illinois terem alegadamente bombeado uma mesquita no Minnesota - apelando a outros utilizadores do MyMilitia para concretizarem atos semelhantes. O julgamento do líder desta milícia, autodenominada “White Rabbits” (“Coelhos Brancos”), começou a 2 de novembro.
O MyMilitia ficou online pela primeira vez através da GoDaddy em 2016. O seu criador, um conservador de Ohio chamado Chad Embrey, comprou vários outros servidores online para hospedar o grupo. Segundo uma reportagem da “Vice”, a plataforma tem cerca de 20 mil utilizadores ativos, organizados em mais de 530 milícias nos EUA. E a sua popularidade tem crescido: entre outubro de 2019 e outubro deste ano as suas visitas quadruplicaram - em parte devido ao Facebook ter começado um escrutínio mais apertado à atividade dos seus membros.
“Estes grupos são usados para recrutar milícias, instruindo-as para andarem armadas e fomentarem a inquietação nas suas comunidades”, explicou Talia Lavin, autora do livro “Culture Warlords: My Journey Into the Dark Web of White Supremacy”. O site também disponibiliza uma biblioteca de manuais sobre treinos com armas de fogo (incluindo snipers), assim como manifestos com estratégias para fazer uma revolução nos EUA. Além de discussões infundadas sobre fraude eleitoral, os últimos conteúdos analisam a possibilidade de uma guerra civil nos EUA a curto prazo.
“Todos aqueles que são contra a ideia de milícias estão a requisitar que o MyMilitia seja removido da internet - é um inimigo dos EUA, um inimigo da liberdade e um inimigo de todos os cidadãos americanos patrióticos”, disse ao “The Guardian” Josh Ellis, que comprou o site em abril. Os termos e serviços da GoDaddy proíbem todas as atividades que “promovam, encorajem ou pratiquem terrorismo, violência contra pessoas, animais ou propriedade”. Até agora a empresa não deu qualquer indicação de que irá remover o site do seu portefólio.
Por outro lado, esta semana a plataforma de pagamentos digitais Paypal e a sua subsidiária Venmo cortaram todas as ligações comerciais com o MyMilitia. O grupo está agora a recolher donativos através da plataforma CashApp, detida pelo fundador do Twitter Jack Dorsey, bem como da plataforma de crowdfunding cristã GiveSendGo, que já disse que irá manter a parceria com o grupo.