Sete pessoas, entre elas dois menores estudantes do colégio Bois d’Aulne, em Conflans-Sainte-Honorine (região de Paris), onde foi decapitado há cinco dias o professor Samuel Paty, vão responder nesta quarta-feira a um juiz de instrução e, depois, deverão ser alvo de uma investigação preliminar por presumível cumplicidade com o assassino.
Este, Abdouallakh Anzorov, um checheno de 18 anos, filho de uma família de refugiados da Chechénia em França, foi abatido, com diversos tiros, pela polícia, pouco tempo depois de ter friamente degolado o docente. Antes de morrer ainda teve tempo de publicar uma foto de Samuel Paty decapitado com, também, ameaças diretas ao Presidente Emmanuel Macron, qualificado como “chefe dos infiéis”.
O professor Paty foi decapitado por ter mostrado caricaturas de Maomé durante uma aula sobre liberdade de expressão.
O procurador antiterrorista, Jean-François Ricard, deverá dar informações mais concretas sobre as investigações em curso numa conferência de imprensa na tarde desta quarta-feira, em Paris.
O ataque terrorista levado a cabo por Anzorov, nascido em 2002 em Moscovo e refugiado em França desde os seis anos de idade, parece ter sido executado por ele – qualificado por investigadores como “jihadista solitário intoxicado pelas redes sociais” -, de forma individual, mas alegadamente com o apoio das sete pessoas indiciadas.
O refugiado checheno parecia não pertencer a qualquer comando ou organização terrorista conhecida. Tudo indica que pode ser mais um “lobo solitário”, como o que atacou e feriu gravemente, no passado dia 25 de setembro, duas pessoas junto à antiga sede, em Paris, da revista "Charlie Hebdo".
Este caso chocou a França, onde se têm multiplicado as marchas em memória do docente, pela liberdade de expressão e contra o terrorismo.
Simultaneamente, as autoridades lançaram operações em todos os sentidos, com buscas e rusgas nos meios islamitas conhecidos pelos serviços de informação, fecho de associações e de mesquitas e expulsões de estrangeiros presumíveis próximos do radicalismo islâmico.
O terrorista vivia a 80 km de Conflans e nem sequer conhecia Samuel Paty. Apenas o identificou graças às informações que lhe deram, a troco de dinheiro, os dois estudantes menores suspeitos. Terá sabido da aula e da exibição das caricaturas do Profeta através de outro dos indiciados - o pai de uma aluna, que lançara dias antes a mobilização contra o professor.
Além destes três, os outros quatro suspeitos de eventual cumplicidade com Anzorov são o militante islâmico franco-marroquino Abdelhakim Sefrioui e três amigos do assassino, que o terão acompanhado na viagem da sua terra para Conflans ou que o poderão ter ajudado durante a preparação do ataque. Todos os indiciados estão em prisão preventiva. Outros sete, que tinham sido presos, alguns da família do homicida, foram libertados ontem, terça-feira.
As autoridades francesas dizem, oficialmente, que Anzorov pode de facto ter agido sozinho e que não estaria ligado a redes clandestinas jihadistas. “Há o terrorismo organizado, que é seguido pelos serviços, e há um jovem de 18 anos que não se encontrava nos radares dos serviços de informação e que comete este ato abominável em nome de uma religião”, declarou o ministro da Justiça, Éric Dupond-Moretti.
Esta quarta-feira, em Paris, decorrem homenagens oficiais ao professor Paty, designadamente ao fim do dia na Universidade da Sorbonne. Emotivas manifestações e “marchas brancas” com milhares de pessoas têm sido organizadas, designadamente em Conflans-Sainte-Honorine e em Paris, em memória do professor, que tinha 47 anos.