Internacional

“Isto vai desaparecer. Um dia, como num milagre, vai desaparecer”: o que disse Trump sobre a covid-19 ao longo dos últimos meses

“Isto vai desaparecer. Um dia, como num milagre, vai desaparecer”: o que disse Trump sobre a covid-19 ao longo dos últimos meses
JOSHUA ROBERTS/REUTERS

O Presidente dos EUA, infetado a um mês das eleições, começou por se referir ao coronavírus como “uma gripe” e “um vírus chinês”, assegurando sempre que “iria desaparecer”. Eis um resumo das suas declarações, desde os vários anúncios de uma vacina às soluções milagrosas de combate que foi apresentando e ainda à recusa em usar máscara

A 22 de janeiro, Trump declarou que os EUA tinham a doença “totalmente sob controlo”. “Vai correr tudo bem”, assegurou. Dois dias depois e, apesar do que viria a dizer reiteradamente mais tarde, elogiou a gestão que Pequim estava a fazer da situação: “A China tem trabalhado muito para conter o coronavírus. Os EUA agradecem muito os seus esforços e transparência. Vai correr tudo bem. Em particular e em nome do povo americano, quero agradecer ao Presidente Xi [Jinping]!”.

No início do mês seguinte, Trump carregou no otimismo. “Parece que até abril, quando ficar um bocado mais quente, vai milagrosamente desaparecer”, prognosticou. Mais para o final de fevereiro, anunciou que o país estava “muito próximo de uma vacina” e que tudo não passava de “uma gripe” – “isto é como uma gripe”. “Isto vai desaparecer. Um dia, como num milagre, vai desaparecer”, reforçou, entrando em março com considerações sobre o modo como se trata a doença provocada pelo vírus.

“Se tomares uma boa vacina contra a gripe, não pensas que isso poderá ter um grande impacto no corona?”, questionou-se. “Com base em muitas conversas com muitas pessoas, muita gente terá isto e será muito suave”, disse, arriscando ainda mais: “Milhares ou centenas de milhares de pessoas melhoram apenas por estarem sentadas ou mesmo por irem para o trabalho. Algumas delas vão trabalhar mas melhoram.” E novamente a confiança: “É preciso ter calma. Isto vai desaparecer. Não estou nada preocupado. Relaxem!”.

“O desinfetante acaba com ele num minuto”

Em meados de março, o Presidente reconheceu que o vírus é “muito contagioso” e declarou ter sentido que “isto era uma pandemia muito antes de ser declarada uma pandemia”. No espaço de uma semana, afirmou esperar que os americanos regressassem ao trabalho até à Páscoa, “aquele belo dia de Páscoa”, e concedeu finalmente que “não é a gripe, é terrível”. No início de abril, disse que não se imaginava a usar uma máscara ao cumprimentar “presidentes, primeiros-ministros, ditadores, reis, rainhas” mas que poderia “mudar de ideias”.

A 6 de abril, Trump viu uma “luz ao fundo do túnel” no mesmo dia em que o número de mortes nos EUA associadas à covid-19 ultrapassava as 10 mil. Em cinco dias, esse número duplicou e, quatro dias mais tarde, já superava as 30 mil. Abril foi também o mês em que o Presidente sugeriu soluções milagrosas contra o vírus. “Vejo que o desinfetante acaba com ele num minuto. Há alguma forma de o fazer através de uma injeção? Era interessante verificar isso” e ainda: “supondo que se atingia o corpo com uma luz tremenda, fosse ultravioleta ou apenas muito poderosa, isso ainda não foi verificado…” No dia seguinte (24 de abril), o número de mortos no país ultrapassava os 50 mil.

No dia em que aquele número já superava as 70 mil mortes (5 de maio), Trump anunciou que haveria “mais mortes” mas que o vírus passaria, “com ou sem uma vacina”. Três dias depois, um novo laivo de otimismo ao garantir que a vida voltaria ao normal “sem uma vacina”. No final de maio, em linha com as críticas que vinha fazendo à gestão da pandemia pela Organização Mundial de Saúde, o Presidente anunciava o fim da “relação” dos EUA com a organização.

“Estão a morrer. É verdade. É o que é”

Em meados de junho, Trump sentia que o vírus já estava “a desaparecer”, “a morrer” e declarou que os números começavam “a melhorar bastante”. Os números contradiziam-no: os EUA já superavam as 120 mil mortes. Relativamente à testagem, o Presidente classificou-a como “uma faca de dois gumes”, referindo que ao fazer muitos testes o país ia sempre “encontrar mais pessoas e mais casos”. “Por isso, disse às minhas pessoas [a equipa de resposta à pandemia]: ‘por favor, abrandem os testes.’”

No final de julho, Trump anunciava que a América desenvolveria uma vacina “muito em breve” e que esta seria disponibilizada “em tempo recorde”. A 3 de agosto, disparou várias mensagens contraditórias: “Penso que estamos a sair-nos muito bem, tão bem como qualquer outra nação”, “[As pessoas] estão a morrer. É verdade. É o que é”, “Abram as escolas!”, “Neste momento, penso que está sob controlo”. No final do mês, havia já seis milhões de americanos infetados.

No início de setembro, com a campanha presidencial a apertar, Trump anunciou que haveria uma vacina “antes do final do ano ou até mesmo antes de 1 de novembro” (as eleições são a 3 de novembro). Dias depois, voltava a apontar o dedo à China. Questionado sobre se não temia ser infetado nos seus comícios, disse, a 14 de setembro: “Estou num palco. É muito longe. Por isso, não estou nada preocupado.”

No debate presidencial, na madrugada de quarta-feira em Portugal continental, ridicularizou o adversário democrata Joe Biden pelo uso alegadamente excessivo da máscara.

Segundo os dados mais recentes da Universidade Johns Hopkins, os EUA registaram até à data mais de 7,27 milhões de infetados e mais de 207 mil mortos, liderando o ranking mundial em ambos os indicadores.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate