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O Washington Post escreveu um editorial a desejar a derrota de Trump: e diz que espera o melhor e teme o pior

O Washington Post escreveu um editorial a desejar a derrota de Trump: e diz que espera o melhor e teme o pior
JONATHAN ERNST/REUTERS

“O desprezo de Trump pela verdade deixa um legado tóxico em todo o mundo”: é este o título do artigo em que o jornal norte-americano toma uma posição

O Washington Post escreveu um editorial a desejar a derrota de Trump: e diz que espera o melhor e teme o pior

Germano Oliveira

Editor online

A justificação para o editorial é concedida logo no título: Trump desrespeita a verdade, isso contagiou o mundo, é uma pandemia comportamental que se junta à pandemia mortal da covid, são pandemias a mais num mundo fragilizado. O Washington Post é duro na titulação mas esperançoso na abertura do seu texto em que toma posição - o conselho editorial do jornal quer Trump fora da Casa Branca nas eleições de novembro porque, diz, "os danos que Trump provocou no sistema político e nas alianças internacionais ainda podem ser revertidos". Portanto: os danos estão feitos mas os EUA podem ser refeitos - como? "Joe Biden pode restaurar padrões anteriores de comportamento presidencial e restabelecer laços com os aliados." Mas à esperança o Washington Post junta temor: "O legado tóxico de Trump vai provavelmente persistir: a degradação da verdade como bem comum da vida pública". Portanto: os danos estão feitos mas podem não ser desfeitos.

O Washington Post sublinha o óbvio, às vezes o óbvio tem de ser recordado para se manter óbvio quando parece que já não o é: "As democracias não funcionam se as diferenças ideológicas são sustentadas na circulação de teorias da conspiração e dados falsificados". O jornal diz que as "mentiras constantes de Trump", que incluem factos sobre a covid-19, levaram muitos dos seus apoiantes a acreditar em teses falsas que não têm fundamento científico, lamenta os esforços contínuos do Presidente para desacreditar as instituições que disseminam a verdade - mais, o Washington Post escreve que muitos presidentes antes do atual mentiram ou distorceram a verdade mas que Trump faz tudo isto numa "escala épica". Portanto: o dano é enorme e a verdade está a ficar uma coisa disforme.

O Washington Post tem números além de palavras: "Segundo uma base de dados mantida pelo nosso jornal, até julho - três anos e meio de mandato - Trump fez mais de 20 mil declarações falsas ou enganadoras, das quais mil são sobre o novo coronavírus". Depois de citar exemplos concretos dessa lista de 20 mil distorções, o Washington Post dá mais números: apesar da campanha de Trump contra os media, em que tudo o que lhe é inconveniente é fake news, o editorial cita um estudo da Economist e da YouGov que mostra que a confiança do público no New York Times e no próprio Washington Post aumentou entre 2016 e 2018. Portanto: aos danos das fake news e do sensacionalismo responde-se com os benefícios das true news e do jornalismo.

O editorial do Post explica depois o contágio, nomeadamente a governo autoritários (e cita Egito, Polónia, Hungria, Turquia, Coreia do Sul, Filipinas e até Israel): entre janeiro de 2017 e maio de 2019, pelo menos 26 países introduziram ou promulgaram leis e regulações que resultaram em censura e até criminalização das "fake news" - entre aspas, porque há fake news que são true news incomodativas para determinados regimes. E depois o texto termina assim: "Num segundo mandato, Trump pode intensificar estes ataques, talvez até forçar a venda de órgãos de comunicação social a donos mais amigáveis. Vai colocar pessoas do seu círculo em vez de profissionais nas agências de inteligência. Vai converter as emissoras públicas em veículos de propaganda pessoal. O objetivo é a tornar a sua própria versão da realidade dominante no discurso político - independentemente da verdade".

O texto do Washington Post está aqui. Lê-lo não provoca danos.

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