Internacional

Documentos diplomáticos da UE revelam descrença crescente em Boris Johnson

Boris Johnson não quer arrastar as negociações com Bruxelas para lá de 15 de outubro
Boris Johnson não quer arrastar as negociações com Bruxelas para lá de 15 de outubro
WILL OLIVER/epa

Documentos confidenciais são revelados pelo jornal “The Guardian” esta terça-feira, dia em que são retomadas as negociações entre o Reino Unido e a União Europeia para definir a futura relação bilateral

Os documentos diplomáticos não enganam: a confiança da União Europeia em Boris Johnson parece ter-se esgotado, num momento em que nova ronda de negociações começa em Londres, para definir os termos do Brexit. A Irlanda do Norte continua a ser um dos pontos mais sensíveis do divórcio e a presidente da Comissão Europeia avisa que o Reino Unido deve cumprir o protocolo relativo àquele território.

Ursula von der Leyen adverte que o Governo londrino deve respeitar o direito internacional, apesar de ter usado o Twitter para expressar esperança no êxito das negociações. “Confio no Governo britânico para aplicar o acordo de saída, uma obrigação ao abrigo da lei internacional e pré-requisito para qualquer parceria futura”, escreveu, naquela rede social , a chefe da Comissão Europeia.

“O protocolo sobre a Irlanda/Irlanda do Norte é essencial para proteger a paz e a estabilidade na ilha, bem como a integridade do mercado único”, sentenciou ainda Von der Leyen.

Esta é a posição diplomática que a UE pretende transmitir, mas documentos confidenciais enviados a vários executivos europeus, a que o diário “The Guardian teve acesso, revelam total descrédito nas negociações com o Governo de Boris Johnson.

“Jonhson é suspeito de hesitar em encontrar um compromisso sobre as questões-chave pendentes”, como as pescas ou apoios estatais, indicam os documentos. Os mesmos dão conta de que a situação é “preocupante” e que “esses pontos não serão fáceis de resolver com um simples telefonema entre outros líderes”.

A Comissão Europeia “teme que a ministra do Interior britânica, Priti Patel, tente contornar Bruxelas e abra negociações paralelas sobre segurança interna, após convidar ministros dos cinco maiores estados-membros da UE para uma reunião em Londres, a 22 de setembro".

Os referidos documentos confidenciais revelam que “funcionários da Comissão Europeia pediram aos países que evitem aceitar qualquer proposta britânica que seja então feita”. As mensagens, enviadas às capitais europeias, revelam que o executivo comunitário “receia que Downing Street [sede do Governo do Reino Unido] esteja por detrás de um manancial de artigos anti-UE na imprensa britânica, citando reportagens que acusam Bruxelas de intransigência antes da última ronda negocial”.

Acordo até 15 de outubro... ou nada feito

Também do lado do Reino Unido a desconfiança é grande, com Boris Johnson a dizer que “o acordo do Brexit nunca fez sentido, considerando-o “contraditório” e ambíguo”, sobretudo por acreditar que este pode deixar a Irlanda do Norte isolada da Grã-Bretanha. O acordo de saída foi negociado com os 27, recorde-se, pelo Governo do próprio Johnson.

O negociador-chefe da UE, o francês Michel Barnier, chega a Londres na manhã desta terça-feira, onde se reunirá com o primeiro-ministro do Reino Unido. O seu homólogo britânico, David Frost, frisa que é hora de a União reconhecer a “realidade” de que o Reino Unido é um Estado soberano. Em jeito de ultimato, atira: “Vamos passar a mensagem clara de que teremos de fazer avanços esta semana se queremos chegar a acordo a tempo”.

O Reino Unido saiu da UE no passado dia 31 de janeiro. Até final de 2020 mantêm-se em vigor os regulamentos que valiam enquanto foi membro da UE, mas a partir de 1 de janeiro a realidade será aquela que as partes acordarem até lá. Johnson indicou há dias que caso não haja acordo até 15 de outubro o melhor será abandonar as negociações.

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