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Trump “destruirá a nossa democracia se isso for necessário para vencer”, alertou Obama na convenção democrata

Trump “destruirá a nossa democracia se isso for necessário para vencer”, alertou Obama na convenção democrata
ROBYN BECK/AFP/Getty Images

O ex-Presidente dos EUA garantiu que Biden, o candidato democrata às eleições de novembro, o tornou “um Presidente melhor” e pode “tornar o país melhor”. Kamala Harris, confirmada como candidata a vice-presidente, afirmou que “o fracasso da liderança de Trump custou vidas”. E Hillary Clinton apelou aos democratas para não deixarem Trump “roubar” uma nova vitória

O antigo Presidente dos EUA Barack Obama acusou esta quarta-feira o seu sucessor, Donald Trump, de incompetência e de ser uma ameaça para a democracia, numa das intervenções mais críticas da convenção democrata, realizada pela primeira vez de forma virtual. Obama avisou que a democracia americana está em risco se Trump vencer novamente as eleições, em novembro, acusando-o de ser inapto para o cargo e de ignorar os valores do país.

“Esta Administração demonstrou que destruirá a nossa democracia se isso for necessário para vencer”, acusou Obama na terceira noite da convenção, num discurso filmado em Filadélfia, a cidade onde a Constituição dos EUA foi redigida e assinada.

A alocução de Obama foi uma das maiores condenações de sempre de um Presidente em exercício feita por um antecessor.

Obama acusou Trump de utilizar a presidência para beneficiar os amigos e a família e de transformar o cargo mais alto do país em “mais um reality show que [o Presidente republicano] pode usar para obter a atenção que deseja”.

O ex-Presidente pediu aos eleitores que “acreditem” na capacidade do candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, que foi seu vice-presidente, para “tirar o país dos tempos sombrios” da Administração Trump. “Ele [Biden] tornou-me um Presidente melhor. Ele tem o caráter e a experiência para tornar o país melhor”, afirmou, num discurso transmitido na Convenção Nacional Democrata, que se realiza, pela primeira vez, de forma virtual, devido à pandemia de covid-19.

Obama foi uma das estrelas desta terceira noite, que contou ainda com discursos da antiga secretária de Estado Hillary Clinton e da líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, numa convenção em que a falta de público e os discursos pré-gravados dificultam a mobilização dos eleitores.

O ponto alto do terceiro dia da convenção foi a confirmação de Kamala Harris como candidata a vice-presidente, um momento habitualmente recebido com banhos de multidão e ovações. Em vez disso, no final de um discurso histórico em que evocou os pais, imigrantes no país, a primeira mulher de ascendência negra e indiana a aceitar aquela nomeação virou-se para os vários ecrãs por trás do palco para agradecer os aplausos transmitidos pelos televisores numa sala deserta.

Michael Short/Getty Images

Harris falou a partir de Wilmington, no estado de Delaware, onde reside Biden. A senadora foi depois felicitada pessoalmente pelo candidato democrata às eleições de 3 de novembro, que entrou na sala a partir da qual o discurso foi transmitido, mantendo, ainda assim, o distanciamento físico.

“O fracasso da liderança de Trump custou vidas”, acusou Harris

“Aceito a nomeação para [candidata a] vice-presidente dos Estados Unidos da América. Faço-o comprometida com os valores que ela [a mãe] me deu", disse.

A senadora da Califórnia evocou as lições da mãe, a bióloga Shyamala Gopalan, já falecida, uma imigrante indiana que chegou aos EUA com 19 anos e que lhe incutiu uma visão do país que prometeu defender. “Uma visão da nossa nação como uma comunidade amada, onde todos são bem-vindos, independentemente da nossa aparência, de onde vimos ou quem amamos. Um país onde podemos não estar de acordo em relação a tudo, mas onde estamos unidos pela convicção fundamental de que cada ser humano tem um valor infinito e merece compaixão, dignidade e respeito", afirmou.

A senadora acusou Trump de mergulhar o país no caos e de ser responsável pelo grande número de mortes por causa da pandemia. “O fracasso da liderança de Donald Trump custou vidas”, denunciou, defendendo que o país está também de luto pela perda de empregos, oportunidades e da normalidade. “Nesta eleição, temos uma oportunidade de mudar o curso da História. Estamos todos juntos nesta luta”, declarou.

Harris recordou ainda que a pandemia afetou de forma desproporcionada os afro-americanos, os imigrantes da América Latina e os indígenas norte-americanos. “Isto não é uma coincidência. É o efeito do racismo estrutural”, denunciou, acrescentando que não existe “vacina contra o racismo”. “Podemos fazer melhor e merecemos muito mais. Devemos eleger um Presidente que traga algo diferente, algo melhor”, instou.

A candidata também recordou o pai, um imigrante jamaicano, e, em resposta a alegações de Trump sobre a sua elegibilidade como vice-presidente, lembrou que nasceu no Hospital Kaiser, em Oakland.

Trump reagiu prontamente ao discurso de Harris no Twitter.

“Mas ela não o chamou racista? Não disse que ele era incompetente?”, escreveu, em alusão a declarações de Harris em junho de 2019, quando a senadora afirmou que o antigo vice-presidente não tinha sido suficientemente contundente em várias questões raciais.

Não deixem Trump “roubar” nova vitória, disse Hillary

Já a ex-secretária de Estado Hillary Clinton recordou a derrota que sofreu em 2016, apesar de ter obtido mais três milhões de votos do que Trump, instando os democratas a não deixarem que o Presidente republicano “roube” uma nova vitória. Falando a partir da sua casa em Chappaquiddick, disse que na altura esperou que Trump pusesse o ego de lado e fosse o Presidente de que os EUA precisavam, mas que tal não aconteceu.

Recordando um momento em que Trump perguntou aos eleitores negros em 2016 o que tinham a perder ao apoiá-lo, Clinton respondeu: “Agora sabemos”. Clinton parafraseou também o monólogo de Hamlet, de Shakespeare, afirmando que conhece bem “as fundas e flechas” que Harris enfrentará como mulher negra.

“Bem-vindos, Barack e Hillary Desonesta. Encontramo-nos no campo de batalha!”, escreveu Trump no Twitter.

Na véspera, os democratas confirmaram oficialmente a nomeação de Biden como candidato para defrontar Trump nas presidenciais.

A convenção democrata decorre em Milwaukee, no estado do Wisconsin, até esta quinta-feira, quando será feito o discurso de aceitação de Biden.

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