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Estão a prender quem escreve artigos críticos na imprensa. E por isso (mas não só) há um apelo em Hong Kong dirigido ao “mundo livre”

Jimmy Lai, algemado, a ser levado de sua casa pela polícia de Hong Kong
Jimmy Lai, algemado, a ser levado de sua casa pela polícia de Hong Kong
VERNON YUEN/AFP/Getty Images

O magnata dos media Jimmy Lai e a ativista Agnes Chow foram detidos, juntamente com mais oito pessoas, ao abrigo da Lei da Segurança Nacional imposta pelo Governo central chinês. A vaga de detenções realça “a natureza draconiana” daquela lei, defendem uns, enquanto Pequim se congratulou com a detenção do que apelidou “agitadores”

Estão a prender quem escreve artigos críticos na imprensa. E por isso (mas não só) há um apelo em Hong Kong dirigido ao “mundo livre”

Hélder Gomes

Jornalista

“Primeiro foram atrás dos ativistas, agora vão atrás da imprensa.” Luke de Pulford, da organização não-governamental Hong Kong Watch, não tem dúvidas de que a detenção do magnata Jimmy Lai na região administrativa especial chinesa é uma das primeiras de muitas. “Infelizmente, esta detenção era completamente previsível. Detê-lo é simbólico do rumo que as coisas estão a tomar em Hong Kong. Nos próximos meses cada vez mais pessoas serão presas com falsas acusações. É difícil vislumbrar um recuo”, vaticina ao Expresso.

Em comunicado, a polícia informou que o empresário foi detido por suspeitas de conluio com forças estrangeiras e fraude. O conluio é um dos crimes previstos na nova Lei da Segurança Nacional, que também criminaliza atos considerados secessionistas, subversivos e terroristas. A lei foi imposta por Pequim, com a anuência da chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam. Em meados de junho, duas semanas antes de a lei ser aprovada, Lai disse à agência de notícias AFP esperar ser detido. “Estou pronto para ir para a prisão”, declarou.

“Se isso acontecer, terei oportunidade de ler livros que ainda não li. A única coisa que posso fazer é estar positivo”, afirmou. O empresário declarou então que a nova lei iria “substituir” o regime legal de Hong Kong e “destruir o estatuto financeiro internacional” do território. Com 71 anos, Lai é o fundador do “Apple Daily”, que se tornou o jornal de referência durante os protestos do ano passado. As manifestações em defesa de reformas democráticas começaram em março de 2019, ficaram marcadas por violentos confrontos com a polícia e levaram à detenção de mais de nove mil pessoas.

Combatente pela liberdade ou mão (in)visível dos EUA?

Lai era visto frequentemente nas marchas de protesto, enfrentando chuva intensa ou um calor escaldante. Para os seus apoiantes, é um audaz combatente pela liberdade. Para os detratores, não passa de uma mão mais ou menos invisível dos EUA para lançar o caos. Nos últimos anos, foram lançadas bombas de fogo contra o portão da sua casa, um obituário, impresso numa publicação concorrente, garantia que havia morrido com sida e os seus donativos políticos foram escrutinados num caso de combate à corrupção. É muitas vezes apresentado como o único multimilionário de Hong Kong disposto a arriscar a fortuna e a vida.

Pouco depois da detenção de Lai, dezenas de agentes das forças de segurança entraram na sede do grupo de comunicação social Next Digital, de que é proprietário. Alguns agentes ordenaram aos jornalistas que se levantassem e alinhassem para se fazer a verificação das suas identidades, enquanto outros faziam buscas na redação. Mark Simon, um dos colaboradores de Lai, escreveu no Twitter que a polícia também fez buscas na casa do empresário e na do filho, acrescentando que outros membros do grupo de media foram detidos ou levados para interrogatório.

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