Juan Carlos anunciou que vai sair de Espanha. O rei emérito enviou uma carta ao filho, o rei Filipe VI, em que dá conta da sua decisão de sair do país “imediatamente”. A carta foi tornada pública esta segunda-feira pela Casa Real espanhola, onde se pode ler que o afastamento de Juan Carlos está relacionado com a “repercussão pública” que as recentes notícias sobre as suas contas bancárias no estrangeiro podem ter no reinado do filho, que, escreve ainda, precisa de “tranquilidade e sossego” para desempenhar as suas funções.
Na nota, Juan Carlos refere-se às polémicas em que tem visto o seu nome envolvido - e às investigações em curso - como “certos acontecimentos passados da minha vida privada”. “O meu legado, e minha dignidade enquanto pessoa, exigem que me exile”, pode ler-se na carta divulgada pela Casa Real. A decisão de sair do país, refere ainda, foi tomada “com profundo lamento mas com grande serenidade”.
De acordo com as notícias publicadas há umas semanas pelo jornal digital “El Español”, o rei emérito pediu que se montasse um “esquema” para esconder os milhões que o então monarca da Arábia Saudita, já falecido, lhe terá “oferecido como presente segundo a tradição saudita”. No entanto, as autoridades acreditam que este dinheiro foi uma espécie de comissão paga a Juan Carlos por ter servido de intermediário entre empresas espanholas de construção de linhas ferroviárias e o Governo saudita, que procurava quem construísse ligação de alta velocidade entre Medina e Meca.
Perante o anuncio, Filipe VI agradeceu a decisão do pai, sublinhando a “importância histórica que o seu reinado representa”. Numa nota divulgada pela casa real, o rei de Espanha recorda aquilo que considera ser o legado de Juan Carlos.
O exílio de Juan Carlos acontece quatro meses depois de Filipe VI ter retirado a pensão ao rei emérito e anunciado que renunciava à sua parte da herança, procurando deste modo distanciar-se das fraudes fiscais que mancharam o seu antecessor.
Além do negócio com o então monarca da Arábia Saudita, o antigo rei ainda está a ser investigado pelo Ministério Público pela sua intermediação em vários negócios e também por esquemas que envolviam a sua ex-amante, Corinna Larsen.
Juan Carlos tornou-se rei em novembro de 1975 e foi o chefe do Estado espanhol até à sua abdicação, a favor do filho, em junho de 2014. Felipe VI, de 52 anos, nega qualquer conhecimento ou envolvimento nos vários casos a que o pai tam sido associado.
A CARTA NA ÍNTEGRA
“Majestade, querido Filipe, com a mesma avidez de serviço a Espanha que inspirou o meu reinado e pela repercussão pública que estão a ter certos acontecimentos passados da minha vida privada, desejo manifestar a minha absoluta disponibilidade para contribuir para o exercício das tuas funções na tranquilidade e sossego que esta tua grande responsabilidade requer. O meu legado, e minha dignidade enquanto pessoa, exigem que me exile.
Há um ano expressei-te a minha vontade e o desejo de deixar de desempenhar as atividades institucionais. Agora, guiado pela convicção de prestar um melhor serviço aos espanhóis, as suas instituições e a ti como rei, comunico-te a minha imediata decisão de sair de Espanha.
É uma decisão que tomo com profundo lamento mas com grande serenidade. Fui rei de Espanha durante 40 anos e durante todos eles sempre quis o melhor para Espanha e para a Coroa.
Com a minha lealdade de sempre.
Com o carinho e afeto de sempre, o teu pai”
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