Zoom censura reuniões de ativistas a pedido do governo chinês
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A aplicação Zoom, empresa norte-americana de serviços de videoconferência, que já foi processada por partilhar dados dos utilizadores com terceiros num passado recente, é agora acusada de encerrar reuniões a ativistas chineses
Depois de ter sido associada a práticas pouco lícitas, tais como a omissão de vulnerabilidades no sistema de encriptação da app e de partilhar dados de utilizadores com empresas como o Facebook, a Zoom, empresa sediada em São José, na Califórnia, EUA, volta a estar envolvida numa situação ligada aos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Desta vez, o tema é a censura.
Esta quinta-feira, a plataforma de videoconferência foi acusada de interromper ou encerrar as contas de três ativistas que realizavam eventos on-line relacionados com o aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial e com a discussão da crise em Hong Kong. Após a contestação dos visados, que partilharam a história com os meios de comunicação social, a zoom emitiu uma resposta na qual afirma ter agido a pedido do poder político chinês, com quem já teria tido várias comunicações desde o mês de maio: "O governo chinês informou-nos que essa atividade é ilegal na China e exigiu que o Zoom encerrasse as reuniões e as contas de anfitrião".
Redlio Designs
Responsáveis pela empresa de comunicação afirmaram não ter fornecido qualquer informação dos utilizadores ou do conteúdo aos políticos chineses, defendendo não terem qualquer "backdoor" que permita a alguém entrar numa reunião sem ser visível. As reuniões foram feitas fora do território chinês, o que levanta a questão da legalidade ou ilegalidade do ato. Ao contrário de muitas outras plataformas, a Zoom não é bloqueada na China, pelo que vários participantes se puderam juntar aos meetings. A empresa norte-americana diz só ter agido em relação a duas sessões - que apresentavam um número significativo de participantes da China continental - sendo que uma não apresentava metadados que o justificasse.
Não é clara a razão para o encerramento das contas dos utilizadores com base nos EUA e em Hong Kong. O relato de Zhou Fengsuo, um ativista chinês sediado nos EUA, afirma que a sua conta foi encerrada dias depois de ele ter realizado um memorial pela repressão de Tiananmen. Já Lee Cheuk-Yan, um ativista pró-democracia em Hong Kong que organiza uma vigília anual de Tiananmen, foi banido um pouco antes de agendar um evento sobre uma controversa lei de extradição que causou protestos antigovernamentais em massa na cidade durante o ano passado.
Chung Sung-Jun
Wang Dan, outro ativista visado, disse: “O partido comunista chinês está a a atacar ativamente a democracia em todo o mundo. Eles já começaram a intervir no sistema social e no modo de vida nos EUA. O mundo inteiro deve estar em alerta. Esta sexta-feira, Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Externas da China, disse à comunicação social que não estava ciente dos detalhes do caso.
Parlamentares e grupos de direitos humanos dos EUA já vieram condenar a acção do Zoom. Os representantes dos EUA, Greg Walden e Cathy McMorris Rodgers, enviaram uma carta ao presidente executivo da Zoom, Eric Yuan, com um pedido de esclarecimentos. Já o senador americano, Josh Hawley, pediu a Yuan que “escolhesse um lado: princípios americanos e liberdade de expressão, ou lucros e censura globais de curto prazo”.