Brasil. Supremo ordena ao governo de Bolsonaro que publique todos os dados sobre o vírus
A ordem judicial foi assinada pelo juiz Alexandre de Moraes, respondendo a uma ação apresentada, no sábado, pelos partidos Rede Sustentabilidade, PCdoB e PSOL
A ordem judicial foi assinada pelo juiz Alexandre de Moraes, respondendo a uma ação apresentada, no sábado, pelos partidos Rede Sustentabilidade, PCdoB e PSOL
Depois de atrasos nas divulgações dos boletins diários sobre a covid-19, o governo de Jair Bolsonaro deixou de revelar, no sábado, os dados totais da doença no país, assim como os gráficos e as informações que permitiam ler a curva para compreender a evolução do vírus no país. Passaram a ser revelados apenas os números relativos à véspera. Agora, o Supremo exige um regresso à fórmula anterior, conta a “Folha de São Paulo”.
A ordem judicial foi assinada pelo juiz Alexandre de Moraes, respondendo assim a uma ação apresentada, no sábado, pelos partidos Rede Sustentabilidade, PCdoB e PSOL.
O juiz ditou, conta a “Folha”, que o Ministério da Saúde deve divulgar “exatamente conforme [era] realizado até 4 de junho”. E acrescentou: "O desafio que a situação atual coloca à sociedade brasileira e às autoridades públicas é da mais elevada gravidade, e não pode ser minimizado, pois a pandemia de covid-19 é uma ameaça real e gravíssima”.
Antes desta ação judicial, no entanto, a imprensa brasileira deu conta do recuo do Ministério da Saúde, anunciando que iria recuperar os dados totais de vítimas mortais por covid-19 e de casos confirmados no país. Ainda assim, aquele ministério garantiu que vai dar destaque aos dados ocorridos nas 24 horas anteriores. Essa nova plataforma, garantiu o executivo, está disponível a partir desta terça-feira.
Depois do apagão de dados sobre o novo coronavírus promovido pelo governo, alguns dos mais importantes jornais e publicações de notícias do Brasil anunciaram uma parceria para cobrir todo o território e divulgar as informações que foram agora sonegadas.
“Em resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a pandemia de covid-19, os veículos ‘G1’, ‘O Globo’, ‘Extra’, ‘O Estado de S.Paulo’, ‘Folha de S.Paulo’ e ‘UOL’ decidiram formar uma parceria e trabalhar de forma colaborativa para buscar as informações necessárias nos 26 estados e no Distrito Federal”, pode ler-se no artigo acima mencionado. “O governo federal, por meio do Ministério da Saúde, deveria ser a fonte natural desses números, mas atitudes recentes de autoridades e do próprio presidente colocam em dúvida a disponibilidade dos dados e sua precisão."
Antes do apagão, na sexta-feira, Bolsonaro, que entretanto chamaria “TV Funerária” à Globo, deu sinais de insatisfação pela forma como a imprensa trata os números. “A pessoa tem dez comorbidades, está com 94 anos e pegou o vírus. Potencializa. Parece que esse pessoal que… O Globo, o ‘Jornal Nacional’ gosta de dizer que o Brasil é recordista em mortes. Falta, inclusive, seriedade: bote mortos por milhões de habitantes. É querer comprar mortes no Brasil, que tem 210 milhões de habitantes, com países que têm 10 milhões.”
A juntar à crise sanitária, figurando já como segundo país do mundo mais castigado pela pandemia, o governo de Bolsonaro vai vivendo em turbulência depois da saída de dois ministros da Saúde: Luis Henrique Mandetta e Nelson Teich, em abril e maio, respetivamente.
Mandetta, que abandonou o governo por divergências pela abordagem ao vírus e devido à mensagem governativa que poderia confundir os brasileiros, reagiu à decisão logo no sábado: "Do ponto de vista da saúde, é muito ruim, é uma tragédia o que a gente está vendo, de desmanche da informação", começou por dizer num direto promovido pelo Instituto Brasiliense de Direito Público. “Parece-me que estão querendo fazer uma grande cirurgia nos números dos protocolos público. (...) Não informar significa o Estado ser mais nocivo do que a doença, ser mais nocivo do que o vírus.”
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