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Zuckerberg não vai tomar medidas contra ‘posts’ “profundamente ofensivos” de Trump no Facebook. Dois funcionários da empresa já se demitiram

Zuckerberg mantém decisão de não tomar medidas contra ‘posts’ violentos de Trump no Facebook. Dois funcionários da empresa já se demitiram
Zuckerberg mantém decisão de não tomar medidas contra ‘posts’ violentos de Trump no Facebook. Dois funcionários da empresa já se demitiram
Erin Scott

Reunião desta terça-feira seguiu-se a uma “paralisação virtual” dos funcionários do Facebook, em protesto contra a inação da empresa perante os comentários de Donald Trump sobre os protestos pela morte de George Floyd. CEO da empresa, Mark Zuckerberg, diz que os privados não devem interferir no discurso político. E nada vai alterar na política de uma das maiores empresas do mundo

Mark Zuckerberg, fundador e presidente-executivo do Facebook, não vê motivos para tomar qualquer ação contra as publicações de Donald Trump consideradas pelos funcionários da empresa como enganosas, incitadoras da violência e responsáveis por um clima de medo e violência contra cidadãos negros no país.

Segundo o “The Wall Street Journal”, Zuckerberg terá dito numa reunião interna da empresa esta terça-feira que considera as publicações de Trump “profundamente ofensivas” mas que isso não é motivo para que empresas privadas interfiram no discurso político e que suprimir o debate é pior do que realizá-lo publicamente.

A reunião foi motivada pelos protestos de uma série de funcionários da gigante tecnológica, que fizeram uma “paralisação virtual” na segunda-feira por considerarem que as palavras de Trump estão a ir frequentemente contra a política da empresa. Pedem que o Facebook abandone a posição neutral que tem mantido e que levou a que dois deles, ambos engenheiros de software, abandonassem a empresa por fracassar perante Trump.

O primeiro a fazê-lo publicamente foi Timothy J. Aveni, com uma mensagem publicada no LinkedIn sob o título #blacklivesmatter (e que pode ser lida AQUI), ao qual se juntou Owen Anderson, também engenheiro, que no Twitter disse estar “orgulhoso” por deixar de fazer parte da empresa.

Não foram os únicos. Várias mensagens entre funcionários foram reveladas no final da semana passada e nelas lê-se a frustração que os levou a pedir explicações e a mostrar uma posição de força. “Devo dizer que estou a achar os contornos pelos quais temos de passar incrivelmente difíceis de engolir”, escreveu um deles, citado pelo “The Verge”, seguido de outro, que aponta para o que ainda pode estar por vir. “Tudo isso indica um risco muito alto de uma escalada da violência e de distúrbios civis em novembro e, se falharmos no teste aqui, a história não nos julgará gentilmente.”

Outros ainda, como o engenheiro Brandon Dail, optaram por falar publicamente: “É claro como água que a liderança [do Facebook] se recusa a ficar ao nosso lado”, publicou, também no Twitter.

Em causa estão dois textos que o presidente norte-americano replicou em ambas as redes sociais, Twitter e Facebook, e que levaram a violentas queixas de cidadãos de todos os quadrantes, dentro e fora dos EUA. O próprio Twitter, não os apagando, deixou um aviso a quem os leu.

O primeiro desses posts foi publicado pelo presidente norte-americano na passada terça-feira, 26 de maio, e insinua que as eleições marcadas para novembro, nas quais Trump pode ser reeleito, serão fraudulentas se avançar a ideia de alguns estados de instituir o voto por correspondência para contornar as limitações impostas pela covid-19. “Não há MANEIRA NENHUMA (ZERO!) de que os votos por correio sejam nada menos do que substancialmente fraudulentos”, escreveu Trump, sugerindo que estes poderiam ser roubados, forjados ou “até impressos ilegalmente e assinados de forma fraudulenta”.

O Twitter respondeu com um link, sinalizado com um ponto de exclamação, a remeter para uma página com informação factual sobre este tipo de votos. “Conheça os factos sobre o voto por correio”, lê-se.

Na sexta-feira, Trump recorreu às mesmas redes sociais para escrever que os manifestantes, nas ruas em protesto pela morte de George Floyd, asfixiado por um agente da polícia, são “bandidos”. E escreveu mais: “Quando o saque começa, o tiroteio começa”, ameaçou, referindo-se à violência e aos assaltos que se têm visto em alguns protestos.

O Twitter voltou a fazer um aviso à navegação: “glorifica a violência”. Os responsáveis optaram por não o apagar - “pode ser do interesse público que o ‘tweet’ continue acessível” - mas reforçaram a posição “contra o enaltecimento da violência”. O Facebook não tomou qualquer medida.

A notícia de que a empresa de Zuckerberg assim continuará, em silêncio, já mereceu a condenação de algumas figuras ligadas ao ativismo antirracista, que se dizem “desapontadas” e “atordoadas” com a decisão. A convulsão interna está também a ser vista como a principal ameaça à liderança de Zuckerberg, que fundou o Facebook há mais de 15 anos.

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