Depois de dois meses fechadas, várias lojas no centro de algumas das mais populosas cidades dos Estados Unidos estavam prontas a reabrir à muito necessária clientela, já esta semana. Em vez disso, comerciantes em Chicago, Washington ou Mineápolis deparam-se com protestos às suas portas, nalguns casos violentos, e voltam a ter de adiar tudo.
Na última semana, boletins noticiosos em todo o mundo têm-se focado nas manifestações, maioritariamente de pessoas negras mas com considerável participação de norte-americanos brancos, que rebentaram um pouco por todo o país em revolta contra o homicídio de George Floyd, negro que morreu com o pescoço debaixo do joelho de um polícia enquanto pedia, por favor, que o deixassem respirar.
O fósforo que incendiou as ruas, algumas na capital, Washington, bem perto da Casa Branca, foi este incidente de brutalidade policial, já criticado de um lado ao outro do espectro político (ainda que o próprio Presidente não o tenha feito), mas o fio condutor desta história é longo e de nylon. Como nos diz a História, no século XIX, 750 mil norte-americanos morreram numa guerra civil para decidir se escravizar humanos seria constitucional. Em 1967, em Detroit, depois em 1992, em Los Angeles, e já com Barack Obama, em 2014, na cidade de Ferguson, estas explosões são cíclicas. E espera-se que passem rápido, como até aqui.
Numa troca de emails com o Expresso, o escritor e sociólogo Elijah Anderson, da Universidade de Yale, cujo trabalho aborda sobretudo as lutas dos negros desde o fim da escravatura, explica até onde vai a divisão invisível entre negros e brancos no dia a dia da América: “Há espaços para brancos e espaços para negros, ainda hoje. O emblemático gueto dos negros é um legado da escravatura e permanece na mente de muitos brancos como o ‘lugar os negros’, mesmo que hoje as pessoas de cor já escolham os cursos que tiram e tenham bons ordenados. Por vezes, os ataques aos negros parecem vir do nada, mas não, há uma raiz psicológica profunda: a passagem de uma sociedade segregada para uma não-segregada”.
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