Na madrugada desta segunda-feira, a polícia lançou gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes instalados no perímetro da Casa Branca desde a passada sexta-feira. Ao mesmo tempo, o Presidente fugia para o bunker de segurança máxima que existe naquelas instalações.
Reforçado para ser capaz de resistir à força do embate de um avião de passageiros eventualmente arremessado contra a Casa Branca, foi naquele bunker que o vice-presidente Dick Cheney se protegeu dos ataques no 11 de setembro de 2001. O “New York Times” escreve que “o Presidente e a sua família ficaram perturbados pela experiência de sexta-feira, segundo vários dos seus conselheiros”.
A atitude de Donald Trump tem sido amplamente criticada por não fazer uma comunicação oficial nacional sobre o caso que abala o país, preferindo lançar tweets incendiários como este: “Se eles [tivessem violado a vedação], teriam sido recebidos pelos cães mais violentos e armas mais destruidoras que eu já vi. Aí é que as pessoas se magoariam a sério, pelo menos”.
Há três dias consecutivos que milhares de pessoas protestam em pelo menos 140 cidades em todo o território dos Estados Unidos, em várias das quais foi decretado o recolher obrigatório e o Governo convocou a intervenção da Guarda Nacional para conter os distúrbios. As representações estatais do Governo, monumentos evocativos da Confederação e outros símbolos que agora dividem os americanos têm sido o locais escolhidos pelos manifestantes.
Apoio da extrema-direita é evidente
Pode ser quem nem este apoio velado à força brutal da polícia e a ameaça de ordem para disparar a matar sobre os autores dos desacatos venha a abalar as perspetivas de reeleição de Donald Trump no final deste ano. Como declarou o analista Carlos Gaspar à agência Lusa, “a forma como Trump pretende responder pode não o prejudicar por causa do grande aumento da direita racista e supremacista branca nos Estados Unidos".
Segundo este especialista em Política Internacional, o recurso à Guarda Nacional para conter os manifestantes e a ordem para “começarem a disparar” “agrada a essas áreas da opinião pública americana [de extrema-direita]". Além disso, realça, não se pode esquecer o "apoio considerável da opinião pública, segundo as sondagens", de que o líder dos Estados Unidos dispõe atualmente.
Esta onda de protestos que varre os Estados Unidos e chega à Europa - Londres ou Berlim - deve-se à "situação chocante" da morte de George Floyd, com uma "violência de grande dimensão", diz Gaspar. "Isto insere-se num contexto muito antigo de violência policial nos Estados Unidos dirigida a cidadãos afro-americanos, mas este é um caso ainda mais óbvio", documentado pelas imagens que circularam na internet.
Milhares de detidos
Pelo menos 4.100 pessoas foram detidas nos protestos que se seguiram à morte do afro-americano George Floyd na segunda-feira, segundo a contagem realizada pela agência de notícias Associated Press.
As detenções foram feitas durante as pilhagens e no decorrer de bloqueios nas estradas, bem como pelo incumprimento do recolher obrigatório imposto em várias cidades norte-americanas.
Os números da prisão incluem os das manifestações em Nova Nova Iorque e Filadélfia na costa leste, Chicago e Dallas no centro-oeste e sudoeste, bem como em Los Angeles na costa oeste.
A filha do autarca de Nova Iorque, Bill de Blasio, conta-se entre as pessoas que foram detidas de sábado à noite na parte baixa de Manhattan, apanhada pelas forças de segurança quando participava numa manifestação.
A polícia argumentou que Chiara de Blasio participava numa "manifestação ilegal" e a detenção ocorreu uma hora antes de o seu pai dizer aos manifestantes que estava na "altura de irem para casa" para se evitarem confrontos.
George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu na noite de segunda-feira em Mineápolis, sufocado por um polícia, cujo registo foi amplamente divulgado através da internet.
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