Kim Jong-un foi operado ao coração? Coreia do Norte não diz nada, mas o Sul e a China não estão preocupados
Kim Jong-un visitou uma base aérea a 11 de abril de 2020 e desde então não tem sido visto em público
KCNA/EPA
Rumores de cirurgia surgiram por o líder ter faltado à cerimónia de aniversário do falecido avô e pai da pátria, Kim Il-Sung, mas são desvalorizados por Seul e Pequim
Que se passa com Kim Jong-un? O Governo da Coreia do Sul não vê motivos para inquietação, mas circulam notícias – veiculadas esta terça-feira pela CNN, entre outros meios – de que o Líder Supremo norte-coreano, de 36 anos, foi operado ao coração e estará em estado crítico. As fontes do canal de televisão americano são funcionários do Governo dos Estados Unidos, sob anonimato. Um deles garante que Washington está “a seguir informações” de que Kim corre “grave perigo”.
Também o sítio informativo norte-coreano Daily NK, produzido em Seul (capital sul-coreana) por norte-coreanos críticos do regime totalitário comunista de Kim, noticiou que este está em tratamento numa vivenda particular no monte Kumgang, após ter sido sujeito a cirurgia cardiovascular no passado dia 12, num hospital de Hyangsan, na costa leste do país. O jornal de Hong Kong “South China Morning Post” refere que a recuperação está a correr bem e que Kim “anda e fala”.
A fonte ouvida pelo Daily NK – ligado ao Ministério da Unificação sul-coreano e financiado, entre outros, por americanos – aponta obesidade, tabagismo e stresse como raízes dos problemas de saúde do ditador norte-coreano. “Tem tido problemas desde agosto passado, mas pioraram após visitas sucessivas ao monte Paektu”, explica, mencionando a montanha que a Coreia do Norte considera sagrada.
O “South China Morning Post” ouviu Yang Moo-jin, professor de estudos norte-coreanos, que considera “altamente improvável que pessoal médico ou outro do entorno de Kim Jong-un se atrevesse a falar do seu estado de saúde”. Relaciona os rumores com as recentes eleições parlamentares na Coreia do Sul, indicando como possível origem a oposição de direita, que veio a ser derrotada pelo partido do Presidente Moon Jae-in, defensor da reaproximação entre as Coreias.
A festa de anos do Presidente Eterno
“Se tivesse mesmo acontecido alguma coisa a Kim, o Norte teria fechado as fronteiras e os diplomatas e jornalistas estrangeiros em Pyongyang teriam sido colocados sob vigilância mais apertada”, assegura Yang. Nada disso aconteceu.
Kim apareceu em público a 11 de abril, véspera da suposta cirurgia, numa reunião do partido único que chefia e, segundo a agência oficial norte-coreana KCNA, visitou uma base aérea. A 15 de abril, porém, faltou à cerimónia do 108.º aniversário do seu avô e fundador da pátria, Kim Il-sung, que morreu em 1994 e continua a ser oficialmente Presidente Eterno.
Kim Yo-jong, irmã do líder norte-coreano, cumprimenta o Presidente da Coreia do Sul num encontro em 2018
DR
É a primeira vez que Kim Jong-un está ausente dessa festa desde que ascendeu ao poder, em 2012. Com o mundo mergulhado na pandemia de covid-19, o recato pode ter que ver com desejo de proteção, escreve o diário britânico “The Guardian”, embora a Coreia do Norte tenha comunicado apenas três casos até à data, já esta semana.
“Até agora não detetámos quaisquer sinais invulgares na Coreia do Norte”, afimou o porta-voz do Presidente da Coreia do Sul, citado pelo jornal de Seul “The Korea Herald”. Fonte do Governo sul-coreano afirmou à agência noticiosa sul-coreana Yonhap que não só não há motivos para temer pela saúde de Kim como o mesmo tem aparecido em público e “está atualmente no campo com adidos próximos”. Do Partido Comunista Chinês, um dos raros aliados internacionais de Kim, veio idêntico desmentido, informa a agência Reuters. A imprensa oficial da Coreia do Norte nada diz.
Irmã é grande apoio do ditador
Há seis anos especulou-se sobre a saúde do ditador quando esteve mês e meio sem ser visto. Os serviços secretos sul-coreanos apuraram, então, que lhe fora retirado um quisto do tornozelo, tendo-se falado de que poderia padecer de gota. Kim coxeava e os media estatais norte-coreanos referiram “desconforto físico”.
Num cenário de incapacitação de Kim Jong-un, tem ganho peso no regime a figura da sua irmã Kim Yo-jong. Conhecida fora de portas desde que representou Kim nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, em Pyeongchang (Coreia do Sul), tem subido na hierarquia do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte e fez em março a sua primeira intervenção pública, em que comparou o país vizinho a um “cão assustado que ladra”.
Kim Yo-jong, que se crê ter 32 anos, acompanhou o irmão em cimeiras com os presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Coreia do Sul, Moon Jae-in. Licenciada em Informática, participou na preparação da sucessão quando o pai, Kim Jong-il, adoeceu (veio a morrer em 2011).
O atual líder – que tem uma filha de cerca de oito anos – e a irmã representam a terceira geração da dinastia que governa o país hermético desde a sua fundação, em 1945. Têm um irmão e uma meia-irmã. Outro meio-irmão foi assassinado em 2017, ao que tudo indica por ordem de Kim Jong-un.