Internacional

Coreia do Sul votou (de máscara e luvas) e premiou Governo pelo combate à covid-19

Luvas, máscaras e viseiras para proteger os escrutinadores, no momento da contagem dos votos, num pavilhão desportivo de Seul
Luvas, máscaras e viseiras para proteger os escrutinadores, no momento da contagem dos votos, num pavilhão desportivo de Seul
JUNG YEON-JE / AFP / Getty images

Os sul-coreanos foram a votos quarta-feira em contexto de pandemia. O escrutínio, que registou a mais alta taxa de afluência dos últimos 28 anos, realizou-se sob rigorosas medidas de proteção. Mas se o uso de máscaras e desinfetante foi tranquilo, a distribuição de luvas descartáveis causou polémica

Margarida Mota

Jornalista

Os sul-coreanos desafiaram o medo e, esta quarta-feira, afluíram às urnas em massa para eleger o próximo Parlamento. De um universo de quase 44 milhões de eleitores, votaram mais de 29 milhões (66,2%) — um recorde de participação desde 1992.

Segundo dados preliminares, o Partido Democrático (PD, centro-esquerda) do Presidente Moon Jae-in foi o grande vencedor, tendo assegurado a eleição de 180 dos 300 deputados da Assembleia Nacional, portanto. Não só garante a maioria absoluta como granjeia a vitória partidária mais expressiva desde que o país começou a ter eleições livres, em 1987.

Entre os 103 deputados eleitos pelo derrotado Partido Futuro Unido (conservador), na oposição, está um desertor norte-coreano. Thae Yong Ho, de 55 anos, era nº 2 na embaixada da Coreia do Norte em Londres quando, em 2016, fugiu para o Sul. Foi agora eleito por Gangnam, o bairro chique de Seul retratado no tema do rapper Psy que correu mundo, Gangnam Style.

Efeito covid

“Os resultados do partido do Governo refletem o nível de aprovação do público em relação à liderança de Moon após a pandemia”, analisa o diário “The Korea Times”.

A Coreia do Sul é identificada como um caso de sucesso ao nível da contenção do coronavírus. Recorrendo a uma estratégia de realização de testes em massa e de aplicação de períodos de quarentena — em detrimento de medidas de confinamento como as que vigoram na maioria dos países europeus —, a Coreia do Sul conseguiu controlar a situação com números relativamente baixos, tendo em conta a sua proximidade geográfica à China.

Esta quinta-feira, pelo quarto dia consecutivo, o país registou menos de 30 novos casos de covid-19. Tem agora um total de 10.613 infetados e 229 mortos, números que Portugal já ultrapassou. Os recuperados são quase 8000.

“Espera-se que os resultados aumentem a confiança de Moon para avançar com políticas importantes a nível da economia, diplomacia, reforma judicial e outras áreas durante o que resta do seu mandato, que termina em maio de 2022”, escreve o jornal coreano.

As luvas da polémica

foram as primeiras eleições legislativas em todo o mundo em época de pandemia e o ambiente em torno das mesas de voto refletiu esses tempos extraordinários.

Após superarem filas de espera por vezes na ordem de dezenas de metros de comprimento — agravadas pela distância física de um metro aconselhada pelas autoridades —, os eleitores, com máscara no rosto, encontravam à entrada das 14.330 assembleias de voto, dispersas por todo o país, um posto de controlo onde lhes era medida a temperatura corporal. Quem superasse os 37.5ºC era encaminhado para uma secção especial para fazer um teste à covid-19.

À entrada, os cidadãos tinham também de desinfetar as mãos antes de calçarem um par de luvas de plástico, que, embora sejam hoje uma arma de defesa contra o coronavírus, não geraram consenso entre os sul-coreanos.

Segundo o jornal “The Korea Herald”, antes das eleições, várias petições apelaram à proibição do uso das luvas por questões... ambientais. “Como votaram mais de 29 milhões de cidadãos, estima-se que mais de 58 milhões de luvas descartáveis tenham sido usadas. Segundo uma ONG local, Movimento Desperdício Zero da Coreia, empilhar as luvas usadas nas eleições podia atingir a altura de sete KLI 63 Building [arranha-céus de 60 andares em Seul] ou 1,7 km de comprimento”. Para os críticos desta medida, os eleitores deveriam ter levado as suas próprias luvas de casa.

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