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Como é que se controla a vida de 16 milhões de pessoas? Conheça as medidas adotadas por Itália, o país europeu mais afetado pelo covid-19

Como é que se controla a vida de 16 milhões de pessoas? Conheça as medidas adotadas por Itália, o país europeu mais afetado pelo covid-19
MATTEO CORNER

Marcar férias antecipadas, falar por vídeo-conferência e manter sempre a distância de um metro em todos os estabelecimentos comerciais são algumas das regras impostas pelo governo italiano para evitar que a situação de propagação do coronavírus se torna ainda mais acelerada. Itália é o país da Europa no qual mais gente morreu por causa deste surto e os números estão a aumentar bastante nos últimos dias

Como é que se controla a vida de 16 milhões de pessoas? Conheça as medidas adotadas por Itália, o país europeu mais afetado pelo covid-19

Ana França

Jornalista da secção Internacional

Neste momento Itália é o segundo país do mundo com mais casos de covid-19, logo a seguir à China. Havia, por volta das 22h00 em Lisboa, 6.387 doentes, mais 1.326 do que no sábado (um aumento de 26.2% em apenas um dia), e 366 mortes, um pulo de 133 (o que representa um aumento de 57% do número de vítimas em apenas um dia), segundo Angelo Borrelli, comissário-chefe da Proteção Civil da região da Lombardia, numa conferência de imprensa em Milão, este domingo .

As autoridades estão tão preocupadas que no sábado mandaram fechar grande parte do norte do país, onde cerca de 16 milhões de pessoas passam a viver com severas restrições aos seus movimentos. Cidades grandes e normalmente cheias de turistas na rua como Milão, Bolonha ou Veneza estão praticamente desertas e os voos para e do aeroporto de Malpensa, em Milão, estão quase todos a ser cancelados. Mas como é que se controla um número tão grande de pessoas? E como é que se controla o vírus? Os responsáveis prometem pouca leniência: as penas de prisão vão até aos três meses para quem não cumprir esta quarentena coletiva.

Mais meios no terreno

"No que diz respeito às forças em campo, o número está a aumentar", disse Borrelli, "somos cerca de quatro mil e o número de tendas de campanha disponibilizadas para as estruturas de pré-triagem é de 412". Também as máscaras devem chegar em breve. O comissário garantiu que a Proteção Civil está a assinar vários contratos que, de 12 de março a 30 de abril, deverão fornecer 22 milhões de exemplares cirúrgicos", acrescentou, citado pelo La Reppublica.

Proibição quase total de movimentos dentro da “zona vermelha”

O decreto do governo italiano proíbe entradas e saídas da Lombardia e de mais 14 províncias (Modena, Piacenza, Veneza, Reggio Emilia, Rimini, Parma, Pesaro e Urbino, Novara, Alessandria, Asti, Verbano-Cusio-Ossola, Vercelli, Pádua, Treviso). O primeiro-ministro, Giuseppe Conte, já disse que a polícia terá autorização para questionar as pessoas que se queiram deslocar dentro destas áreas sobre os motivos para esse movimento até porque só quem “comprovadamente”, por motivos muito urgentes de trabalho ou pessoais, justificar a necessidade de viajar é que poderá sair desta área. A proibição de circulação é total para quem está de quarentena.

Alertar o resto dos italianos - o vírus não está só no norte

“Se continuarmos a comportarmo-nos da mesma forma, não é só por o vírus estar agora concentrado em Milão que não vai espalhar-se por todo o lado”, afirmou na mesma conferência de imprensa o presidente do Instituto de Saúde do Norte, Silvio Brusaferro. Tendo proposto a todos os comités técnicos que neste momento auxiliam o governo na tomada de decisões, o responsável considera que “cada cidadão do país tem de estar consciente da importância da adopção destas medidas, independentemente da sua área de residência”.

Proibir viagens e fechar escolas

O decreto de lei publicado pelo governo italiano está disponível a todos os que o quiserem consultar, o que se aconselha já que constam lá as regras para os movimentos dentro e fora da “zona laranja” como as multas que estão associadas a quem não cumprir as recomendações. É proibido viajar dentro e fora da Lombardia e das 14 províncias em questão e todas as necessidades de trabalho "comprovadas" devem, primeiro, ser autorizadas pela autoridade local. Até 3 de abril todas as instituições de ensino - dos jardins de infância às universidades, estão fechadas.

Atividade comercial restrita. Spas, piscinas, centros de estética e bem-estar, ginásios são para fechar

Os restaurantes e cafés vão poder ficar abertos das 6h às 18h, mas mediante condições: os gerentes têm de conseguir garantir que os clientes se mantêm a um metro uns dos outros e que as mesas também estão dispostas dentro destes limites de segurança. As competições desportivas podem realizar-se, mas à porta fechada. As grandes superfícies permanecem abertas, mas fecham ao fim de semana para evitar as grandes concentrações de pessoas. Todas as lojas que não sejam restaurantes podem permanecer abertas sem restrições, mas a regra do metro de distância também tem de ser imposta. Museus, centros culturais e outros institutos culturais estão fechados, tal como cinemas e teatros. Não se podem realizar casamentos, funerais ou outras cerimónias religiosas. O primeiro-ministro reconhece que estas medidas podem causar incómodo, mas diz que esta é a altura em que todos os italianos devem pensar nas suas ações, pois podem ter um sério efeito nos outros: “Estas medidas vão causar desconforto e obrigam a sacrifícios. Mas este é o momento de auto-responsabilidade, não de agirmos no interesse próprio ou com malícia. Devemos proteger a nossa saúde e a dos nossos familiares, dos nossos pais, mas acima de tudo a saúde dos nossos avós porque sabemos que os idosos estão mais expostos aos perigos deste vírus.”

Férias antecipadas se possível

O governo aconselha a marcação de férias a todos os trabalhadores que o possam fazer neste momento.

Regras para o resto de Itália

Escolas fechadas mais uma semana

Até 15 de março, todas as instituições de ensino permanecem fechadas. Viagens de estudo estão, porém, adiadas até pelo menos 3 de abril, que é quando as escolas no norte do país podem reabrir.

Regresso a Itália monitorizado, pessoas do norte identificadas

As pessoas que regressem de países onde o número de infetados é grande têm de comunicar a sua proveniência e muitas regiões do sul estão a pedir que as pessoas que saíram recentemente da “área laranja” também se dirijam às autoridades de saúde locais para despistar contaminação.

Cinemas, teatros e museus fechados

É uma regra que vigora em todo o território italiano. Não há cinemas, teatros, museus abertos e é proibida a realização de qualquer atividade cultural pública. O município de Roma, uma cidade que todos os dias recebe milhares de turistas, já anunciou o encerramento de todos os museus, teatros e todos os institutos onde se realizam eventos culturais.

Bares e espaços de divertimento noturno também fecham

Bares, escolas de dança, salas de jogos, salas de apostas e bingo, discotecas e outros estabelecimentos que funcionem à noite e sejam destinados apenas ao divertimento também estão incluídos na lista de estabelecimentos que os italianos em todo o país deixam de poder utilizar. Bares e restaurantes, ginásios e piscinas continuam abertos mas impõe-se a “regra do metro”.

Familiares não podem ficar nas salas de espera

As pessoas que forem acompanhar outras, suspeitas de estarem infetadas com o vírus, a hospitais e centros de saúde terão de permanecer fora das instalações. Também as visitas aos hospitais é limitada e mediante avaliação dos médicos de serviço.

Pessoas de quarentena não podem sair de casa. Férias antecipadas quando possível

Tal como no norte, também no resto de Itália o governo proíbe que quem já tenha sido diagnosticado com coronavírus se ausente de sua casa. Também no sul, centro e ilhas, as autoridades pedem aos trabalhadores que marquem férias agora, se isso for possível.

Comunicações com presos através de vídeo ou telefone

Os reclusos que apresentem sintomas de coronavírus terão de ser mantidos em isolamento e todos os outros que tenham de falar com urgência com advogados, agentes de liberdade condicional, famílias, devem fazê-lo pelo computador, através de chamadas de vídeo ou por telefone.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: afranca@impresa.pt

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