Depois de meses de protestos nas ruas contra o desemprego, a estagnação de salários e a política apoiada no sectarismo religioso que congela a ação governativa, o Líbano vai mesmo falhar o pagamento de parte da sua dívida em Eurobonds, anunciou este sábado o primeiro-ministro libanês, Hassan Diab.
Os eurobonds são os títulos de dívida denominados em uma moeda diferente daquela do país ou mercado em que são emitidos. São subscritos por uma união internacional de bancos, e distribuídos em diversos países. Pela primeira vez, o Líbano não vai conseguir honrar o pagamento destas obrigações e Diab disse que o próximo passo é procurar acordos que possibilitem a reestruturação da dívida. A dívida do país está nos 90 mil milhões de dólares, cerca de 170% do Produto Interno Bruto.
A crise de divisa estrangeira está a afetar duramente este país do Médio Oriente. “As nossas reservas de moeda estrangeira caíram para níveis preocupantes e isso obriga o governo libanês a suspender o pagamento dos Eurobond que atingem maturidade dia 9 de março, porque precisamos desse dinheiro para o país”, disse Diab. Na segunda-feira, o Líbano deveria pagar 1,2 mil milhões de dólares (1,06 mil milhões de euros), com outros 700 milhões com meta em abril e mais 600 milhões em junho. "O estado libanês procurará reestruturar suas dívidas, de maneira consistente com o interesse nacional, entrando em negociações justas com todos os credores", disse ainda.
Os protestos que ocupam as ruas desde outubro não dão sinais de acalmar, muito menos isso se espera depois destas notícias já que muita gente teme que as suas poupanças desvalorizem - e muito. Se o Líbano honrar os compromissos financeiros, temem os depositantes, as reservas podem esgotar, o acesso ao dinheiro depositado passa a ser ainda mais restrito e o dinheiro vai desvalorizando no banco sem que as pessoas possam aceder-lhe. “Como podemos pagar aos nossos credores estrangeiros se os libaneses não conseguem aceder ao seu próprio dinheiro?”, perguntou o governante na mesma conferência de imprensa em que anunciou o “default”. Nas ruas concordam com ele mas pedir ajuda ao FMI (organismo com que o governo libanês já falou) pode ser difícil num país onde a milícia xiita Hezbollah tem um grande peso nas decisões e se recusa a admitir colocar o Líbano sob a supervisão dos Estados Unidos, o maior inimigo política dos xiitas.
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