O equilíbrio de forças entre os principais candidatos à nomeação pelo Partido Democrata para as presidenciais de novembro tem levado muitos – incluindo o Expresso neste 2:59 – a admitir que se chegue à convenção do partido, a realizar em julho, sem que nenhum dos candidatos tenha uma maioria de delegados eleitos.
A permanência, até esta quinta-feira, de quatro candidatos em liça (o ex-vice-presidente Joe Biden e os senadores Bernie Sanders (do Vermont) e Elizabeth Warren (de Massachusetts), além da congressista Tulsi Gabbard) torna possível esse cenário, considerado o mais provável pelo site especializado FiveThirtyEight. Isso poderia dar azo a uma brokered convention, ou seja, uma convenção negociada em que o candidato a destronar Donald Trump seria discutido e escolhido, em vez de meramente aclamado por já vir com maioria absoluta.
Tal não acontecerá, contudo, se Biden eleger mais delegados do que Sanders, ainda que não some maioria. É este último quem o assegura. “Se Biden chegar à convenção, ou ao fim do processo, com mais votos do que eu, será o vencedor”, afirmou Sanders no canal televisivo MSBNC. Promete que tal será o caso quer Biden tenha ou não mais de metade dos 3979 delegados a eleger. Já expressara visão semelhante em fevereiro.
Esta posição não é reciprocada por Biden. Este afirmou à CNN, domingo passado, que continuará a lutar pela nomeação ainda que Sanders seja o mais votado até julho, se este não tiver maioria. “As regras estão estabelecidas e não se mudam a meio do jogo”, explicou.
Os delegados são eleitos proporcionalmente, estado a estado e território a território, entre fevereiro e junho. Até 3 de Março (Super Terça-feira) votaram 18 estados e o arquipélago de Samoa Americana. Sem que todos os votos desse dia estejam ainda contados, Biden vai à frente (566 delegados), seguido de Sanders (501), deixando Warren (61) e Gabbard (1) a grande distância (os números são do jornal digital Politico.com).
Nos últimos dias desistiram três aspirantes: Pete Buttigieg e Amy Klobuchar ainda antes do dia 3, Michael Bloomberg logo a seguir. Todos declararam apoio a Biden.
Contra os superdelegados
Na convenção os delegados estão obrigados, numa primeira votação, a apoiar o candidato por cuja lista foram eleitos. Se nenhum obtiver maioria absoluta (1990 votos), não só essa obrigação cai como entram em cena os superdelegados, isto é, pessoas que participam na convenção por inerência dos seus cargos (governadores, congressistas, senadores). São 771 e não têm vinculação prévia a qualquer candidato.
O que Sanders promete é que não será necessária qualquer segunda ronda de votação nem a participação dos superdelegados. O senador sempre considerou a existência destes antidemocrática e disse, sobre a hipótese de os superdelegados ‘virarem’ uma convenção e condicionarem a escolha de um candidato que não fosse o mais votado: “Seria um verdadeiro desastre para o Partido Democrata. As pessoas diriam ‘a pessoa com mais votos não foi selecionada’. Não é boa ideia”.
Sanders está politicamente à esquerda quer de Biden quer de Hillary Clinton, para quem perdeu a nomeação de 2016. Em ambos os casos os superdelegados prejudicariam o senador do Vermont, uma vez que são maioritariamente centristas e moderados, receando os efeitos no eleitorado da escolha de um “socialista” declarado como Sanders.
Este acredita, contudo, que tem “uma via real para a vitória”, apesar de ter ficado atrás de Biden na Super Terça-feira (este venceu em dez estados, Sanders em apenas quatro). O antigo vice-presidente de Barack Obama foi impulsionado por bons resultados na Carolina do Sul, dias antes, e pelas desistências de Buttigieg e Klobuchar, que o apoiam.
Warren à vice-presidência?
Warren estará, entretanto, a ponderar abandonar a corrida, escrevem vários jornais americanos. Admite-se que possa negociar com Biden ou Sanders ser escolhida como candidata de um ou de outro a vice-presidente. O senador não quis comprometer-se com essa hipótese, ao dizer na MSNBC: “É muito cedo para falarmos disso, mas é certo que tenho muito respeito pela senadora Warren e que gostaria de sentar-me com ela a conversar sobre o papel que poderá ter na nossa administração”.
O que Sanders não admite é uma candidatura em que ele e Biden concorram, por qualquer ordem, a presidente e vice. “Um homem velho e branco provavelmente já é demasiado para algumas pessoas. Creio que precisamos de um pouco mais de diversidade”, justificou. Ele tem 78 anos; Biden, 77; Warren tem 70 e é mulher, pelo que seria uma estreia como presidente ou vice-presidente.
Quem chegou mais perto desse marco foi Hillary Clinton, derrotada há quatro anos por Trump depois de ter sido a primeira candidata presidencial de qualquer dos dois grandes partidos dos Estados Unidos. Candidatas a vice-presidente só houve duas, ambas sem êxito: Geraldine Ferraro pelos democratas em 1984 (com Walter Mondale, batido pelo então reeleito Ronald Reagan) e Sarah Palin pelos republicanos em 2008 (com John McCain, vencido por Barack Obama, cujo vice era Biden).