
Algo está a mudar na política irlandesa. No Norte, os inimigos partilham o governo autónomo e na República o primeiro-ministro convocou eleições. Há uma dúvida que permanece
Algo está a mudar na política irlandesa. No Norte, os inimigos partilham o governo autónomo e na República o primeiro-ministro convocou eleições. Há uma dúvida que permanece
James Angelos
Belfast, como Berlim e Sarajevo, atrai muitos visitantes não apesar da sua história de conflito assassino, mas por causa dela. Os guias levam os turistas aos “muros da paz”, as barricadas altas de metal enferrujado e cimento erguidas durante o conflito sectário, conhecido como The Troubles (os problemas, numa tradução livre), que começou em 1968 e devastou a Irlanda do Norte durante três décadas. Os muros foram construídos para separar enclaves protestantes e católicos e evitar que as pessoas se matassem umas às outras à medida que a espiral do ciclo de ataques se desenrolava. Hoje, turistas de todo o mundo visitam os muros e tiram selfies. Este género de turismo é mais peculiar em Belfast do que nalgumas outras cidades moldadas por um legado de atrocidades. Podemos visitar as partes intactas do Muro de Berlim, por exemplo, sabendo que o muro já não serve o seu propósito original. Em Belfast, porém, os muros ainda lá estão para dividir, e a sua presença continuada ainda é necessária para prevenir um ressurgimento da violência.
Visitas aos muros da paz são frequentemente guiadas por ex-combatentes paramilitares que se encontravam ativos durante os Troubles. O condutor careca, robusto e tatuado que me levou numa dessas visitas em junho passado disse que estava “ligado” a um grupo paramilitar chamado Ulster Defense Association (associação de defesa do Ulster), ou UDA, que foi responsável por centenas de mortes. Descreveu-se como “nenhum anjo” durante os Troubles e pediu que eu usasse apenas o seu primeiro nome, Robert, a fim de não chamar a atenção das autoridades — os envolvidos ainda podem enfrentar processos criminais — ou de velhos inimigos. “Aqui todos somos paranoicos como o diabo”, disse-me pouco depois de eu entrar na sua carrinha. “A guerra não acabou. Longe disso.”
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Um original do “New York Times Magazine”, com tradução de Luís M. Faria
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