O Comité de Emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS) volta a reunir-se esta quinta-feira em Genebra, na Suíça, para decidir se declara o surto do novo coronavírus, proveniente da China, como uma emergência de saúde pública internacional. O comité reuniu-se na quarta-feira mas não chegou a um consenso sobre a matéria.
O coronavírus, identificado como 2019-nCoV, foi detetado em dezembro, tendo já provocado pelo menos 17 mortos em 616 casos confirmados, segundo as autoridades chinesas. Já há duas cidades no país em isolamento: Wuhan, o epicentro do surto, e Huanggang, a cerca de 70 quilómetros de distância.
“A função da OMS é garantir que a resposta de saúde pública global a qualquer novo surto é rápida, robusta e abrangente, sobretudo tendo em conta a distribuição geográfica dos casos”, refere Jeremy Farrar, diretor da organização não-governamental (ONG) Wellcome, dedicada à investigação em saúde.
Em declarações ao Expresso, a partir de Davos, onde participa no Fórum Económico Mundial, o diretor da ONG sublinha que “este surto é extremamente preocupante”. “A transmissão de pessoa para pessoa foi confirmada e, como esperado, há um número crescente de casos na China e noutros países, com profissionais de saúde infetados”, acrescenta.
Sintomas ligeiros ou ausência de sintomas podem “estar a mascarar verdadeiro número de infetados”
O vírus em causa é transmitido entre animais e passou para os seres humanos. No entanto, as circunstâncias da transmissão de pessoa para pessoa ainda não estão totalmente fundamentadas. Os primeiros casos surgiram em Wuhan, no centro da China, e acredita-se que terá tido origem num mercado de marisco e carnes de Huanan, naquela cidade.
Fora da China continental, foram confirmados casos na Coreia do Sul, EUA, Hong Kong, Japão, Macau, Tailândia e Taiwan.
“Uma grande preocupação é a variedade de sintomas que este vírus está a causar. Algumas pessoas estão a ser afetadas e são infecciosas, apesar de apresentarem apenas sintomas muito ligeiros ou possivelmente não apresentando quaisquer sintomas”, alerta Jeremy Farrar. E sugere: “Isto pode estar a mascarar o verdadeiro número de infetados e a dimensão da transmissão de pessoa para pessoa.”
“Ainda não percebemos este vírus nem o seu impacto”
Nos últimos dias, regressou o espectro da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que infetou mais de 8 mil pessoas e matou quase 800 numa pandemia que se espalhou pela Ásia entre 2002 e 2003. O diretor da Wellcome lembra, no entanto, que “a velocidade com que este vírus foi identificado é uma prova das mudanças na saúde pública na China desde a SARS e da forte coordenação global através da OMS”.
“O mundo está muito mais bem preparado para identificar pacientes e adotar as necessárias medidas clínicas e de saúde pública do que durante a SARS. Contudo, ainda não percebemos este vírus nem o seu impacto clínico e na saúde pública. Também ainda não temos vacinas ou tratamentos comprovados”, equaciona Jeremy Farrar. “A CEPI (Coalition for Epidemic Preparedness Innovations), que a Wellcome apoia, está a trabalhar atualmente com parceiros globais para acelerar a pesquisa de uma vacina para este novo vírus”, assegura.
Enquanto se aguarda uma deliberação da OMS, que declarou emergência de saúde pública internacional para as epidemias da gripe H1N1, da pólio e dos vírus Zika e Ébola, as autoridades de Macau cancelaram as celebrações do Ano Novo Lunar. A medida já tinha sido adotada pelas autoridades locais de Wuhan. O Ano Novo, que arranca este sábado, é uma data muito especial no calendário chinês e leva centenas de milhões de pessoas a viajar pelo país.
“Não há casos suspeitos” em Portugal
Em Portugal, a Diretora-Geral de Saúde (DGS), Graças Freitas, informou esta quarta-feira que “não há casos suspeitos”, pelo que não existe uma situação de alarme.
Por precaução, a DGS está “com mais atenção” aos sete casos exportados da China continental. Os dispositivos de saúde pública já foram acionados, estando em alerta os hospitais de São João, no Porto, e Curry Cabral e Estefânia, em Lisboa.